sábado, 30 de junho de 2018

DÍZIMO: OBRIGAÇÃO OU ADORAÇÃO VOLUNTÁRIA?



Robinson L Araujo[1]


INTRODUÇÃO

Em dias atuais, assiste-se uma avalanche de críticas quanto ao dízimo por meio das redes sociais. Pessoas revoltadas pelos apelos incessantes daqueles que estão à frente de uma igreja ou trabalho evangélico, martirizando aqueles que o assistem com a punição "celeste" por não entregarem seus dízimos e ofertas. É isso bíblico? Realmente é por meio de coação que se deve entregar o que seria sagrado? É obrigação ou adoração voluntária daqueles que o fazem de coração?

Sendo assim, existe a necessidade de um estudo aprofundado, mas não muito extenso daquilo que representa o dízimo na vida daqueles que seguem o cristianismo e dos que não seguem. Desvendando a maldição e vivendo a benção do ofertar que está acessível para todos.


1. A PRÁTICA DO DÍZIMO NOS PRIMÓRDIOS

Dízimo significa a décima parte de algo, pago voluntariamente ou através de taxa ou imposto, normalmente para ajudar organizações religiosas judaicas e algumas denominações cristãs. Antes da Lei, os dízimos já existiam, embora não parecesse fazer parte regular de cultos religiosos, ou seja, não havia preceitos que regulamentassem e requeressem o dízimo como um processo contínuo e específico. Desta forma, não se pode duvidar que os próprios patriarcas adotassem  a prática do dízimo, antes mesmo de sua instituição legal.

Elwell (1993, p.487) aponta que: "A prática de se dar a décima parte dos bens ou produtos de uma pessoa, a fim de sustentar instituições religiosas ou o sacerdócio, é uma prática antiga, generalizada na antiguidade e achada no judaísmo bem como nas culturas circunvizinhas do Oriente próximo".

Champlin (2006, p.201) afirma que: "Através das antigas alusões literárias, sabemos que o dízimo existia em muitas culturas antigas, sob uma forma ou outra". O trecho de Gênesis 14:17-20, acaba por informar:
O rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro, depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, no vale de Savé (que é o vale do rei). Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho: este era sacerdote do DEUS Altíssimo. Abençoou a Abrão, e disse: Bendito seja Abrão pelo DEUS Altíssimo, Criador do céu e da terra! e bendito seja o DEUS altíssimo, que entregou os teus inimigos às tuas mãos! Abraão deu-lhe o dízimo de tudo. (Sociedade Bíblica Britânica - SBB).

Diante de tais relatos, o que se percebe é que, o ato de se dizimar no início da formação da sociedade, se dava por voluntarismo, como no caso de Abraão, quando apresentou a décima parte dos despojos do combate militar em que se envolveu, o entregando a Melquizedeque, presumivelmente como uma expressão de gratidão a DEUS por capacitar-lhe e conceder-lhe resgatar seu sobrinho Ló, que tinha sido levado cativo. A narrativa do livro de Gênesis não explica por que Abraão julgou ser necessário dar dízimo a Melquizedeque. O que se sabe é que Melquizedeque foi um rei-sacerdote, que simbolizava um sacerdócio superior ao de Arão, pois refletia o sumo sacerdócio do próprio Cristo.

Outro exemplo de entrega de dízimo antecedente a Lei Mosaica, foi de Jacó, narrado em Gênesis 28:20-22, que afirma:
Fez também Jacó um voto, dizendo: Se DEUS for comigo e me guardar neste caminho que eu vou seguindo, e me der pão para comer e vestidos para me cobrir, de maneira que eu volte em paz à casa de meu pai, e Jeová for meu DEUS, então essa pedra, que tenho posto por coluna, será a casa de DEUS; e de tudo quanto me deres certamente te darei o dízimo. (SBB).

Jacó, nesta passagem, está fazendo um voto em resposta a uma visitação que recebeu de DEUS, em um sonho. Neste sonho, Jacó viu uma escada alcançando o céu, com os anjos de DEUS subindo e descendo por ela. No sonho, DEUS estava de pé, acima da escada, e disse a Jacó:
Perto dele estava Jeová, que disse: Eu sou Jeová, DEUS de teu pai Abraão, e DEUS de Isaque. A terra em que estás deitado ta darei a ti e à tua posteridade; a tua posteridade será como o pó da terra, e te dilatarás para o Ocidente, e para o Oriente, para o Norte e para o Sul. Por ti e por tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. Eis que estou contigo e te guardarei por onde quer que fores e te reconduzirei para esta terra; porque não te abandonarei até ter eu cumprido aquilo de que te hei falado. (Gênesis 28:13-15 - SBB).

Em resposta, Jacó fez o voto que, se DEUS guardasse Sua promessa, ele, por sua vez, daria a DEUS um dízimo. Novamente, em semelhança ao exemplo de Abraão, parece que este dízimo foi voluntário da parte de Jacó. Não se tem o registro se ele de fato começou a dizimar depois que DEUS cumpriu a promessa que lhe fez, Jacó ainda adiou o dizimar por 20 anos, sendo entregue depois da volta a Canaã.

Estes dois são os únicos exemplos de pessoas que deram o dízimo que se pode ser encontrados no Velho Testamento antes da Lei ser dada. Ambos são exemplos de algo voluntário, e a nenhum desses dois, DEUS lhes pediu o dízimo. Em nenhum dos personagens, Abraão e Jacó, pode-se ver um exemplo de dizimar como sendo prática habitual e constante, das suas vidas. De fato, na vida de Abraão, parece que se tem um dízimo como algo que ele só deu uma única vez em sua vida, e foi um dízimo dos despojos de uma vitória militar, dado a um sacerdote de DEUS.

(Anderson) acaba por afirmar que: "Se nossa única evidência para obrigar crentes sob o Novo Pacto a dizimarem se apóia nestas duas passagens de Gênesis, parece-me que estamos nos apoiando em um fundamento muitíssimo inseguro!"


2. A LEI MOSAICA E A PRÁTICA DO DÍZIMO

O que ensina a Bíblia sobre o dízimo sob a Lei Mosaica? É necessário que se tenha paciência para que sejam examinadas passagens significantes que descrevam o dízimo sob a Lei, nas Escrituras.

Importante que seja lembrado que DEUS, por meio de Jesus Cristo, cumpriu a Lei, libertando a todos do julgo da Lei. Gálatas 3:10-13, acaba por afirmar:
Pois todos quantos são das obras da lei, estão sob a maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da Lei para fazê-las. É claro que pela Lei ninguém é justificado diante de DEUS, porque: O justo viverá da fé. A Lei não é da fé, mas: Aquele que faz estas coisas, viverá por elas. Cristo nos remiu da maldição da Lei, tornando-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que é pendurado no madeiro. (SBB).

Diante da afirmação de Paulo que Jesus Cristo redimiu da maldição da Lei, ter-se-á liberdade para que seja estudada a Lei a que o povo de Israel estava sob domínio, sendo assim, veja:

2.1 Como Eram os Dízimos - O que Levítico 27:30-33, afirma:
Todos os dízimos da terra, ou sejam da semente da terra, ou sejam das frutas das árvores, pertencem a Jeová: santos são a Jeová. Se alguém quiser remir parte dos seus dízimos, ajuntar-lhe-á uma quinta parte. Todos os dízimos do gado ou do rebanho, de tudo o que passa debaixo da vara, a décima parte será santa a Jeová. (SBB).

Note que, nesta passagem, o dízimo é descrito como sendo parte do produto da terra, da semente do campo, do fruto das árvores, do gado, e do rebanho. O dízimo não era o dar dinheiro. Em local algum das Escrituras você encontrará que dizimar era o dar dinheiro para DEUS. Ademais, o dízimo era provavelmente dado em uma base anual. Cada ano, depois que a terra tinha sido colhida, as pessoas traziam para os sacerdotes as décimas partes de suas colheitas e do aumento na manada e no rebanho.

Sendo assim, é possível ver que contribuição  semanal ou mensal de dez por cento da monetária que se é exigida na atualidade como dízimo, difere muito da prática do dízimo que é encontrado na Bíblia.

2.2 - Para quem Eram os Dízimos - Quando Yahweh chama Moisés e lhe entrega os Mandamentos e às Leis que o povo de Israel deveria seguir, bem como a divisão de terras na terra de Canaã, que seria a promessa do Senhor, das doze tribos, acaba por escolher uma que seria a descendência de sacerdotes e eles, não teriam herança. Números 18:21-24, afirma:
Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, em compensação do serviço que prestam, isto é, do serviço da tenda da revelação. Para o futuro os filhos de Israel não se chegarão à tenda da revelação, para que não levem sobre si o pecado, e morram. Mas os levitas farão o serviço da tenda da revelação, e levarão sobre si a iniquidade do povo: será estatuto perpétuo durante as vossas gerações, e entre os filhos de Israel não terão herança. Porque os dízimos dos filhos de Israel que eles fazem como oferta alçada a Jeová, eu os dei por herança aos levitas; portanto lhes disse: Entre os filhos de Israel não terão herança. (SBB).

Note, o dízimo foi planejado para ser o sustento dos levitas. Uma vez que estes não tinham nenhuma herança na Terra Prometida, tal como a tinham as outras tribos, DEUS fez provisão para o sustento deles através do dízimo das outras famílias de Israel. De fato, em Números 18:31, diz "E o comereis em todo o lugar, vós e as vossas famílias, porque vosso galardão é pelo vosso ministério na tenda da congregação." O dízimo foi o pagamento - recompensa - que DEUS supriu para os levitas, pelos seus serviços sacerdotais.

2.3 O Dízimo para a Festa - Outra finalidade do dízimo, diferente do aplicado em dias atuais, eram as festas para que todo o povo participasse. Deuteronômio 14:22-27, mostra:
Certamente darás os dízimos de todo o produto da tua semente, a saber, de tudo o que nasce nos teus campos de ano em ano. Comerás, diante de Jeová teu DEUS no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, o dízimo do teu pão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos do teu gado e do teu rebanho; para que aprendas a temer a Jeová teu DEUS em todo o tempo. Se o caminho te for comprido demais, de sorte que não possas levar o dízimo, por ser demasiado longe de ti o lugar que Jeová teu DEUS escolher para ali pôr o seu nome, quando Jeová teu DEUS te abençoar; convertê-lo-ás em dinheiro, atarás o dinheiro na tua mão, e irás ao lugar que Jeová teu DEUS escolher. Darás esse dinheiro por tudo o que desejar a tua alma, por bois ou por ovelhas, ou por vinho, ou por bebidas fortes, ou por tudo o que te pedir a tua alma; ali comerás diante de Jeová teu DEUS, e te regozijarás, tu e tua casa. O levita que está das tuas portas para dentro, não o desampararás; porque não tem porção nem herança contigo. (SBB).

O referido texto fala de um dízimo sendo usado para prover as festas e festivais religiosos de Israel. Números 18:21 diz que, DEUS deu todo o dízimo em Israel para ser a herança aos Levitas. Se todo o dízimo foi dado aos Levitas, então como é que este dízimo de Deuteronômio 14 é dito para ser usado para as festas e festivais religiosos de Israel? A resposta tem que ser que este é um segundo dízimo. O primeiro era usado para o sustento dos Levitas e o segundo para prover para os festivais religiosos, tanto assim que chegou a ser referido como "O  Dízimo para o Festival". O povo de Israel devia usar este dízimo para comer na presença do Senhor, em Jerusalém - o local que Ele escolheu para estabelecer seu nome.

Note que, se fosse demasiadamente incômodo para as pessoas de longe trazerem seus dízimos por todo o caminho até Jerusalém, seria permitido que elas o vendessem  e trouxessem o dinheiro até Jerusalém, onde poderiam comprar aquilo de necessidade para os festivais. DEUS expressamente encoraja as pessoas a gastarem o dinheiro deles em "tudo o que deseja a tua alma," incluindo bebida forte! O propósito era que o povo de Israel  pudesse  aprender ambas as coisas: a temer o Senhor e a regozijar-se nEle.

Note que ter um sentimento de temor do Senhor, e regozijar ante Ele, não são mutuamente exclusivos, mas, na realidade, são complementares, deveriam  acompanhar um ao outro! Este "Dízimo Para o Festival"  tornou possível ao povo de Israel ter toda a comida e bebida necessárias para que  pudesse usufruir das festas religiosas de Israel, e adorar ante o Senhor.

2.4 O Dízimo Para os Pobres - É possível a existência de um terceiro ato de dizimar, que está apontado em Deuteronômio 14:28-29, quando afirma:
No fim de cada três anos tirarás todos os dízimos da colheita do terceiro ano, e o depositarás dentro das tuas portas. O levita (por não ter ele porção nem herança contigo), o peregrino, o órfão e a viúva, que estão das tuas portas para dentro, virão, comerão e se fartarão, para que Jeová teu DEUS te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem.

Os comentaristas Bíblicos estão divididos quanto a se este é realmente um terceiro dízimo, em separado, ou apenas é o segundo dízimo usado de um modo diferente, no terceiro ano. Este dízimo particular bem poderia ser chamado "O Dízimo para os Pobres". Não devia ser ajuntado em Jerusalém, mas nas aldeias. As pessoas de cada aldeia deveriam trazer uma décima parte de suas colheitas e rebanhos e ajuntar tudo, para prover para os pobres da aldeia, incluindo os estrangeiros, os órfãos, e as viúvas.

Quando o povo de Israel fora levado cativo para o exilo, estando Neemias na cidade de Susã, aparece-lhe ao encontro Hanani e repassa a situação de Jerusalém, quando lhe é tocado ao coração o desejo da restauração dos muros. Importante que, após tudo concluído, começa-se a restauração dos princípios quebrados pelo povo que o levaram a lástimas e o peso do exilo.

É possível se encontrado em Neemias 12:44, quando afirma:
Naqueles dias foram nomeados superintendentes das câmaras dos tesouros, das contribuições, das primícias e dos dízimos, para nelas recolherem, segundo os campos das cidades, as porções designadas pela lei para os sacerdotes e para os levitas; pois Judá se regozijou por causa dos sacerdotes e dos levitas que estavam no seu posto. (SBB).

Estes dízimos não eram voluntários como o foi nas vidas de Abraão e Jacó. Similarmente, lê-se em Hebreus 7:5 "E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão." (SBB).

Indiscutivelmente, o dízimo nunca foi voluntário, sob a Lei de Moisés. Note, aqui, que, nos dias de Neemias, homens eram indicados para ajuntarem as ofertas e os dízimos em câmaras designadas para aquele propósito particular. Estas câmaras eram para os bens armazenados, e depois se tornaram conhecidas como "casas do tesouro".

Sob a Lei, pode-se analisar a obrigatoriedade e a aplicabilidade dos dízimos que ora eram levantados/ofertados no Antigo Testamento. Sem dúvidas, seria possível um aprofundamento muito maior porém, levaria um tempo muito longo e se tornaria algo cansativo a sua leitura.


3. A ÓTICA DO DÍZIMO NO LIVRO DE MALAQUIAS

Sem dúvida, em Malaquias, encontra-se o texto mais utilizado para a prática da cobrança do dízimo. Não será possível a afirmação de que não seria o texto ideal, pois quem é que deseja ser amaldiçoado por algo que poderia evitar? Logo, é possível que se traga o dízimo e as ofertas para que não seja amaldiçoado e chamado de ladrão, bem como, se o fizer, as bênçãos estarão sobre a vida.

Sendo assim, o texto esta referendado em Malaquias 3:8-12, que afirma:
8. Acaso roubará o homem a DEUS? contudo vós me roubais. Mas vós dizeis: Em que te havemos roubado? Em dízimos e ofertas. 9. Vós sois amaldiçoados com a maldição; porque me roubais vós, sim, esta nação toda. 10. Trazei o dízimo todo à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz Jeová dos exércitos, se não vos abrir eu as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção até que não haja mais lugar para a recolherdes. 11.Por amor de vós reprovarei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; nem a vossa vide perderá no campo o seu fruto antes do tempo, diz Jeová dos exércitos. 12. Todas as nações vos chamarão ditosos; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz Jeová dos exércitos.

Antes mesmo de se aprofundar no referido texto mencionado, não é possível que o faça sem primeiro contextualizar o porquê Malaquias fala de modo "cruel" ao povo de Israel e aos seus Sacerdotes, a respeito de roubar a Yahweh.

Sendo assim, Champlin (2001, p. 3701), acaba por afirmar que:
"Juntamente com as profecias escritas de Ageu e Zacarias, o livro de Malaquias reveste-se de grande importância por suprir-nos informações preciosas sobre o período entre o retorno dos exilados judaítas à Terra Santa e o trabalho ali desenvolvido por Esdras e Neemias. Foi um período de reconstrução da nação de Judá. (...) temos nesses três livros informações de ordem religiosa e moral sobre o período.

Israel acabara de ser livre do cativeiro. O cativeiro proporcionou abalo na intimidade deles para com Yahweh, devido aderirem a idolatria e, toda prática de maldade encontrada junto ao povo que estavam exilados.

Ainda, Champlin (2001, p. 3701), ainda afirmar que:
Isso nos permite perceber que aquele entusiasmo inicial que deve ter assinalado a inauguração do segundo Templo, nos dias de Malaquias, já devia ter-se abrandado muito, e, juntamente com o abatimento do zelo, aparecera também, o abatimento moral, com o consequente afrouxamento da obediência às prescrições levíticas do culto.

A referida frouxidão se dava tanto na moralidade, como o casamento misto entre judeus e estrangeiros (não era permitido que os judeus casassem com pessoas que não fossem judeus - Malaquias 2:10-16). Fugindo dos princípios estabelecidos pela Torá mosaica, como a Lei do dízimo e da oferta.

Mas, o peso não estava somente sobre o povo, como também, em especial aos sacerdotes. Por conseguinte, Champlin (2001, p. 3702), assevera que:
Malaquias castigou, igualmente, aos sacerdotes de Jerusalém, acusando-os de terem enfadados diante de seus deveres religiosos, além de se mostrarem indiferentes para com seus deveres de mordomia das finanças do Templo. Tudo contribuía, por conseguinte, para manter um clima em que os preceitos da Lei do Senhor eram passados para trás com grande facilidade, como se tudo fosse a coisa mais natural. E a casa de DEUS e o altar de DEUS iam caindo cada vez mais em opróbrio. Diante desse triste espetáculo de desmazelo, exemplificado pela classe sacerdotal, era apenas natural que o povo começasse a mostrar uma mão sovina, e os dízimos devidos ao Senhor começaram a ser pecaminosamente retidos, aumentando ainda mais o estado de penúria e abandono a que estava relegada a adoração ao Senhor (...). Destarte, Malaquias reverbera o mesmo tema que se vinha reiterando desde Deuteronômio, de que a bênção divina, sobre o Seu povo escolhido do passado, estava condicionada a obediência deles, e, caso contrário, eles só poderiam esperar castigo. Mas, se viessem a incorrer em lapso e, então se arrependessem de suas atitudes e ações, o Senhor renovaria uma vez mais as Suas bênçãos.

Sendo assim, passa-se a examinar Malaquias 3:8-12, por comentário individualizado de cada versículo, como transcrito acima, sendo:

3.1 Verso 8: "Acaso roubará o homem a DEUS? contudo vós me roubais. Mas vós dizeis: Em que te havemos roubado? Em dízimos e ofertas".
O pecado que encabeça a lista é seu roubo a DEUS. Eles roubaram a DEUS, não trazendo as ofertas exigidas pela Lei de Moisés, substituíndo-as por animais defeituosos. Eram ladrões das coisas do Senhor, e que coisas? Retiam o que não lhes pertenciam, antes era propriedade de DEUS. 

Sob o Velho Pacto, o dízimo era mandatório, portanto retê-lo era se tornar um ladrão. Note também que DEUS diz que o povo o estava roubando em dízimos. Ele não disse no "dízimo", mas sim nos "dízimos" (plural). Estes "dízimos"  têm que se referir aos diferentes dízimos requeridos do povo de DEUS - o Dízimo para os Levitas, o Dízimo para as Festas ao Senhor, e o Dízimo para os Pobres - Adicionalmente, observe que DEUS não está condenando o reter apenas dos dízimos, mas também das ofertas. Estas, sem dúvida, referem-se às ofertas especificadas em Levíticos 1-5, tais como: a oferta queimada [holocausto], a oferta dos manjares, a oferta de paz, a oferta pelos pecados, e a oferta pelas culpas. Todas estas ofertas eram constituídas, principalmente, de sacrifícios de animais.

O suprimento de comida e mantimento para os Levitas era provido, em grande parte, através destes sacrifícios de animais, dos quais os Levitas eram permitidos participar comendo-os, em certos casos. Uma importante pergunta emerge a este ponto. Por que é que se não reconhece que o sacrifício de animais não é coisa para o Novo Pacto, mas dizemos que o dízimo o é? Se as pessoas estão sob a obrigação de pagar dízimos hoje, então, certamente, ainda estão obrigadas a oferecer sacrifícios de animais.

DEUS amarrou um ao outro - dízimos e sacrifícios - e disse que Seu povo O estava roubando por reter a ambos. Não se pode decidir "pegar e escolher" qual dos dois oferecer-se-á a DEUS hoje. Das duas uma: ou se estar sob a obrigação de oferecer ambos, tanto dízimos como ofertas de animais (sacrifícios), ou ambos - dízimo e sacrifício - foram abolidos pela ab-rogação da Lei Mosaica em Cristo Jesus.

3.2 Verso 9: "Vós sois amaldiçoados com a maldição; porque me roubais vós, sim, esta nação toda".
Aqui, é afirmado: como o povo de Israel estava retendo os dízimos e ofertas, consequentemente estavam amaldiçoados com uma maldição. Note que o verso não diz "Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda a humanidade." Ao contrário, diz "Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação".  A nação inteira estava roubando ao Senhor! Se dizimar fosse um mandamento moral e eterno para todos os povos de todos os tempos, então todos estes estariam sob maldição. Porém, o texto somente diz que é toda nação de Israel que estava sob a maldição.

Importante que se frise a Lei dada por Moisés, no que tange a "maldição", pois o povo estava sob obrigações. Fato é que, em Deuteronômio 28, é dito que se Israel, sob a Lei Judaica desobedecessem aos mandamentos de DEUS, então a nação seria amaldiçoada. 

Note os seguintes textos de Deuteronômio 28:
18. Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e das tuas ovelhas. 23. E os teus céus, que estão sobre a cabeça, serão de bronze; e a terra que está debaixo de ti, será de ferro. 24. O SENHOR dará por chuva sobre a tua terra, pó e poeira; dos céus descerá sobre ti, até que pereças. 38. Lançarás muita semente ao campo; porém colherás pouco, porque o gafanhoto a consumirá. 39. Plantarás vinhas, e cultivarás; porém não beberás vinho, nem colherás as uvas; porque o bicho as colherá. 40. Em todos os termos terás oliveiras; porém não te ungirás com azeite; porque a azeitona cairá da tua oliveira. 45. E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do SENHOR teu DEUS, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenado. (Bíblia Vida Nova - BVN).

Nos referidos versos, DEUS adverte que, se o Seu povo desobedecesse aos Seus mandamentos e estatutos, então as ceifas deles falhariam, as chuvas não viriam, as colheitas seriam pequenas, a locusta (tipo de grilos ou gafanhotos) consumiriam a comida, e os frutos das árvores falhariam.

3.3 Verso 10: "Trazei o dízimo todo à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e provai-me nisto, diz Jeová dos exércitos, se não vos abrir eu as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção até que não haja mais lugar para a recolherdes".
Nesta passagem, DEUS fala da "Casa do tesouro", que eram salas especiais no Templo para armazenar os dízimos de grãos e as primícias, referendados em Neemias 10:38, que diz: "O Sacerdote, filho de Arão, estaria com os Levitas quando esses recebessem os dízimos, e os Levitas trariam os dízimos dos dízimos à casa de nosso DEUS, às câmaras da casa do Senhor". (BVN). Detalhe: Lugar para se guardar os dízimos dos dízimos.

Importante que se registre, não existir sequer um fiapo de evidência de que deve-se associar estas "casas do tesouro"  aos prédios das igrejas para os quais os crentes do Novo Pacto devem trazer seus dinheiros. Ademais, a razão pela qual Israel devia trazer todos os dízimos para dentro da casa do tesouro era que houvesse alimento na casa de DEUS. Ele estava interessado em que os levitas tivessem comida para comer. Este era o propósito daqueles dízimos que eram trazidos para o Templo de DEUS.

É importante que se saliente o fruto da obediência: 1. Que os sacerdotes deixassem de roubar os dízimos que eram entregues pelo povo; 2. Que o povo voltasse a entregar o dízimo para que a tribo de Levi e os sacerdotes tivessem seus alimentos garantidos, pela falta de herança que eles não tinham; 3. Que as bênçãos de DEUS estariam sobre eles (Nação). Ezequiel 34:26, exemplifica: "Delas e dos lugares ao redor do Meu outeiro, Eu farei bênção; farei descer a chuva a seu tempo, serão chuvas de bênçãos". (BVN).

3.4 Verso 11 "Por amor de vós reprovarei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; nem a vossa vide perderá no campo o seu fruto antes do tempo, diz Jeová dos exércitos".
Neste verso, Yahweh-Sabaote, enfatizando o poder do General dos Exércitos, que faz o que quer nesta terra. Sendo assim, Ele afirma que, se Israel trouxer os dízimos e as ofertas, Ele tem toda a AUTORIDADE em repreender o devorador para que não destrua o fruto da terra. Sem dúvidas, o "devorador" é uma referência às locustas que Ele adverte que virão sobre os campos de Israel se o povo falhar em trazer o dízimo.

É de fundamental importância saber que, muitas coisas podem devorar a substância de um homem, caso ele não esteja andando de acordo com os princípios espirituais, inclusive aquele que governa o "dar e receber". Havendo obediência, o Senhor é capaz de cobrir efetivamente todos os devoradores.

Israel era uma sociedade agrícola, e os devoradores das ceifas (pragas, seca, etc.) eram ameaças constantes. Sendo assim, Yahweh-Sabaote pronunciou em favor dos generosos, pois tinha o poder de fazer a nação prosperar, caso obedecessem a Suas regras.

3.5 Verso 12 "Todas as nações vos chamarão ditosos; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz Jeová dos exércitos".
Neste verso, DEUS graciosamente promete que, se Israel for obediente no dar os seus dízimos e ofertas, todas as nações a chamarão abençoada. É interessante que DEUS não apenas advertiu Israel de que seria amaldiçoada se desobedecesse a Lei Mosaica, mas também prometeu que seria abençoada se a obedecesse. Veja os seguintes versos de Deuteronômio 28, que afirmam:
1. E será que, se ouvires a voz do SENHOR teu DEUS, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o SENHOR teu DEUS te exaltará sobre todas as nações da terra. 2. E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do SENHOR teu DEUS; 4. Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais; e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. 8. O SENHOR mandará que a bênção [esteja] contigo nos teus celeiros, e em tudo o que puseres a tua mão; e te abençoará na terra que te der o SENHOR teu DEUS. 11. E o SENHOR te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, sobre a terra que o SENHOR jurou a teus pais te dar. 12. O SENHOR te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado. (BVN).

DEUS prometeu abençoar Israel materialmente, se ela fosse obediente. A promessa inclui abundantes colheitas, copiosas chuvas, e grandes aumentos nas manadas e nos rebanhos. Sendo assim, pode-se por afirmar que, as bênçãos e maldições escritas em Malaquias 3:8-12 referem-se às bênçãos materiais que DEUS prometeu a Israel, se a nação Lhe obedecesse aos Seus mandamentos e estatutos. Dizimar foi um destes mandamentos.

Portanto, o que se pode concluir sobre o dízimo, sob a Lei Mosaica? É possível que, com segurança, conclua-se que o dízimo não tinha nada a ver com o dar dinheiro regularmente, numa base semanal ou mensal, mas, ao contrário, tinha a ver com a adoração a DEUS, conforme ordenado no tempo do Velho Pacto. O mandamento para dizimar, tal como os mandamentos para não comer carne de porco, ostras, dentre outros, tornou-se obsoleto e foi colocado de lado, pela inauguração do Novo Pacto, na morte de Cristo. O dízimo foi o sistema de impostos e taxas ordenado por DEUS sob o sistema teocrático do Velho Testamento.

Sendo assim, a obrigatoriedade de se estar debaixo da Lei mosaica, torna-se totalmente absurda e fora do contexto da Graça de DEUS! Se existe o reconhecimento que Cristo, em Sua pessoa, aboliu o sacerdócio levítico, os sacrifícios de animais, e as festas religiosas, em Si mesmo na cruz do Calvário. Sendo isso uma verdade, por quê se estabelecer a obrigatoriedade do dízimo sob pena de maldição? Sendo assim, que se volte as práticas da Lei, como: Abster-se de alimentos, sacrificar animais pela expiação do pecado, regras de casamento, adoração em Jerusalém, e todas as ordenanças do Velho Testamento.


4. O DÍZIMO E A NOVA ALIANÇA EM CRISTO JESUS

Champlin (2006), acaba por afirmar que algumas pessoas conseguem fazer com que os dízimos pareçam obrigatórios, dentro da economia cristã, encontrando textos de prova no Novo Testamento (NT), para justificar referida prática. Entretanto, outros não encontram a referida obrigatoriedade do dizimar no NT, julgando que tal prática seria uma pequena exibição de legalismo, do que os crentes estão isentos.

O fato é que, o NT acaba por não dar instruções diretas sobre a questão dos dízimos, embora frise a questão da generosidade, sendo parte da Lei do amor: "Amar ao teu próximo como a ti mesmo". Alguns teólogos alegam que a legislação veterotestamentária[2] continua a vigorar nos dias do NT. Isso, entretanto, é uma precária proposição teológica, levando-se em conta tudo quanto o Apóstolo Paulo disse sobre o fato de que não se está debaixo da Lei e sim da Graça.

Sendo assim, passa-se a analisar os seguintes fatos relacionados ao dizimo presentes no Novo Testamento. O interessante sobre o conceito de dizimar, debaixo do NT é que, há somente quatro diferentes passagens  que fazem alguma menção ao dízimo. Veja:

·                    Mateus 23:23: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas". (BVN).

Esta passagem em Mateus é também repetida de uma forma similar em Lucas 11:42. Em ambos os casos é importante notar que o dízimo tinha a ver com ervas que serviam de condimentos e eram cultivadas no quintal (o produto do campo), ao invés de dinheiro.

Jesus chama a atenção dos fariseus, que eram muito religiosos e guardadores da Lei, e o fez enquanto a Lei ainda estava em vigor. Dizer que, uma vez que Jesus falou a estes fariseus que deviam dizimar, acaba por forçar a ideia que Ele queria passar a todos que, também deve-se dizimar. Além do que, ignora o fato que aqueles fariseus viviam sob pacto e leis diferentes daqueles de um salvo do NT. Cristo, através da sua morte, inaugurou o Novo Pacto, assim efetivando uma mudança na Lei, exemplificado em Lucas 22:20, que afirma: "... Este é o cálice da Nova Aliança no Meu sangue, derramado em favor de vós". (BVN), bem como Hebreus 7:12, que afirma: "Pois, quando se muda o Sacerdócio, necessariamente há mudança na Lei". (BVN). Finalmente, nota-se que o dízimo mencionado não foi voluntário em nenhum sentido da palavra. Jesus lhes diz que "deveis" -tendes o dever de - dizimar. O dízimo era mandamento, ordem para todos os judeus e, assim, era obrigatório.

·                    Lucas 18:12: "Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo." (BVN). Jesus, nesta passagem, está ensinando a parábola acerca do fariseu e do cobrador de impostos. Cristo põe estas palavras na boca do fariseu que se via a si mesmo como justo: "dou os dízimos de tudo quanto possuo." Cristo está enfatizando - não o dever do crente neo-testamentário pagar o dízimo mosaico aos levitas, mas - que o homem se vê a si mesmo como justo, confia em suas obras para ser aceitável ante DEUS, todavia, a despeito do melhor que faça, não é justificado ao olhos de DEUS.

·                    Hebreus 7:1-10: 
1. Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do DEUS Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou; 2.  A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; 3.  Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de DEUS, permanece sacerdote para sempre. 4. Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos. 5. E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão. 6. Mas aquele, cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou o que tinha as promessas. 7. Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior. 8. E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive. 9. E, por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos. 10. Porque ainda ele estava nos lombos de seu pai quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro. (BVN).

Nesta longa passagem, o objetivo do autor é mostrar a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio levítico e, portanto, exortar seus leitores para não retornarem às suas formas judaicas de adorar, repletas com seus sacerdócios, Templo e sacrifícios. O autor menciona o relato de Abraão pagando dízimos a Melquisedeque, - somente para o autor - mostrar que, desde que Levi estava nos lombos do patriarca Abraão, na realidade Levi pagou dízimos a Melquisedeque e foi abençoado por ele. Uma vez que é óbvio que o menor é sempre abençoado pelo maior, Melquisedeque e seu sacerdócio são maiores que os levitas e o sacerdócio deles. Aqui, o autor de Hebreus não está mais que reafirmando o fato que Abraão pagou dízimos a Melquisedeque, um fato que já tem-se analisado. Esta passagem não está exortando os crentes "neo testamentários" a darem o dízimo como Abraão o fez - mesmo que só do despojo de guerra e só uma vez na vida. Ao contrário, está instruindo os crentes a perceberem a excelência de Cristo, o qual ministra como um sacerdote muitíssimo superior aos levitas. Portanto, esta passagem não pode ser usada para forçar o dízimo sobre os cristãos. Simplesmente, ela não foi escrita para tratar deste assunto. Ela não tem nada a ver com cristãos ofertando de suas rendas para DEUS e sua obra, mas, ao contrário, tem tudo a ver com a superioridade de Cristo.

Bem, aí você tem a totalidade do ensino do NT sobre o dízimo. Não há nem sequer uma, uma só palavra em todo o NT que ordene ou mesmo sugira que se espere que crentes, dentro do Novo Pacto, dizimem. Mas, enquanto o Novo Testamento fica em total silêncio sobre o dever dos cristãos dizimarem, não o fica sobre o assunto de ofertar, sobre isto o NT fala muito e muito alto.

O NT nunca estipula um certo valor percentual como um padrão obrigatório e exigido para contribuições. Ao contrário, as Escrituras declaram: "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque DEUS ama ao que dá com alegria." (II Coríntios 9:7 - BVN). O dízimo do Velho Testamento foi exigência legal. Os judeus estavam sob obrigação de dá-lo. O ensino do Novo Testamento sobre o contribuir focaliza o seu caráter voluntário "Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente." (II Coríntios 8:3 - BVN). Esta contribuição voluntária é exatamente o que Abraão e Jacó estavam praticando antes da instituição da Lei, e é o que todos os cristãos devem estar praticando hoje.

Os crentes de hoje têm a liberdade de ofertar tanto quanto decidam. Se quiserem dar dez por cento como Abraão e Jacó o fizeram, estão perfeitamente livres para tal. No entanto, se decidirem dar 9 por cento ou 11 por cento ou 20 por cento ou 50 por cento, então podem muito bem fazê-lo. O padrão de suas contribuições não é uma percentagem fixa, mas o exemplo de um maravilhoso Salvador  -- "Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis." (II Coríntios 8:9 - BVN).

O padrão de contribuir é o próprio Cristo, o qual não deu 10 por cento nem 20 por cento nem mesmo 50 por cento, mas 100 por cento! Ele deu tudo que O que tinha, inclusive sua própria vida, para redimir homens e mulheres pecadores como eu e como você!

Algumas vezes aqueles que são ricos sentem que, se pagarem apenas seus dez por cento, DEUS estará alegre com eles. No entanto, um rico que dá, apenas, dez por cento de seus rendimentos pode na verdade desagradar a DEUS, se estiver vivendo uma vida de luxo extravagante enquanto dá, por vezes de má vontade ou de forma obrigada, sendo seus dez por cento tão somente mera "ração de fome" para a obra de DEUS e para as necessidades dos outros. A vontade de DEUS em relação a este homem pode ser que oferte muito além de seus dez por cento de seus rendimentos. Cada pessoa deve buscar a DEUS sobre o quanto e o como ela deve ofertar.

Ademais, aqueles que são pobres não devem sentir-se culpados se não forem capazes de dar dez por cento de seus rendimentos. É verdade que DEUS honrará o homem que dá sacrificialmente, mas se uma pessoa decide que não pode dar dez por cento dos seus rendimentos e ainda assim satisfazer as necessidades mais básicas suas e de sua família, é preciso permiti-lo tamanha liberdade, sem julgá-lo. Afinal, em lugar nenhum DEUS falou aos cristãos que é dever deles dar qualquer percentagem fixa.

Que DEUS traga sobre Seu povo o entendimento, libertando dos grilhões das tradições dos homens que não possam ser substanciadas pela Palavra de DEUS, conforme Marcos 7:1-13 assevera:
Vieram ter com Jesus os fariseus e alguns escribas, chegados de Jerusalém. Tendo visto que alguns discípulos de Jesus comiam pão com mãos impuras, isto é, por lavar, (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar as mãos cuidadosamente; e quando voltam da rua, não comem sem se aspergir, e muitas outras coisas há que receberam e guardam, como a lavagem de copos, jarros e vasos de metal), perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Por que não seguem os teus discípulos a tradição dos anciãos, mas comem com mãos impuras? Respondeu ele: Hipócritas, bem profetizou de vós Isaías, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim; Adoram-me, porém, em vão, Ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Vós, deixando o mandamento de DEUS, observais a tradição dos homens. Continuou: Sabeis muito bem rejeitar o mandamento de DEUS, para manter a vossa tradição. Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, seja morto; mas vós ensinais: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que eu te poderia dar, é Corbã, isto é, uma oferenda a DEUS; não mais lhe permitis fazer coisa alguma pelo pai ou pela mãe, invalidando a palavra de DEUS pela tradição que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes.

É necessário que se olhe para Jesus como o padrão e exemplo do contribuir. Procurai a DEUS diligentemente, sede generosos e prontos a compartilhar, para que entesoureis para vós mesmos o tesouro de uma boa fundação para o futuro, de modo que alcanceis aquela que é a verdadeira vida! Ainda I Timóteo 6:18-19, afirma: "Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro". (BVN).


5. A OFERTA NO NOVO TESTAMENTO. O DOM DA DÁDIVA

Se é verdade que dizimar foi parte da adoração de Israel no Velho Testamento, e que não tem nenhuma injunção prática sobre os crentes do Novo Testamento, então vem à tona, naturalmente, a pergunta "Que é que o Novo Testamento realmente ensina sobre o dar das rendas a DEUS?

Seguramente, o local de partida para os crentes do Novo Pacto, começarem a entender qual é a revelada vontade de DEUS para suas ofertas, está nas Escrituras do NT. Sendo assim, passa-se a examinar a vontade de DEUS para o ofertar do cristão na atualidade.

5.1 - O Quanto Ofertar
Uma vez que se tem estabelecido que o dízimo não é o padrão para crentes na Nova Aliança, como então determinar o valor da contribuição? Apresentar-se-á, três diferentes textos, para analise, sendo II Coríntios 16:1-2, que afirma:
1. Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. 2. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar. (BVN).

No referido texto exemplificado, o apóstolo Paulo dá direções à igreja de Corinto: é em proporção ao quanto cada um tem prosperado que eles devem dar na coleta para os santos em Jerusalém, os quais estão em grande pobreza e passando por enormes aflições. Embora não exista nenhuma menção dos santos em Corinto darem um dízimo ou qualquer outra percentagem imposta, eles são instruídos a darem proporcionalmente à sua prosperidade. O ponto em foco é simples -- aqueles com mais dinheiro deem mais, aqueles com menos dinheiro, podem dar menos.

Em Atos 11:27-30, tem-se:
Naqueles dias desceram alguns profetas de Jerusalém a Antioquia; e levantando-se um deles, chamado Ágabo, dava a entender pelo Espírito que haveria uma grande fome por todo o mundo; e ela sucedeu no reinado de Cláudio. Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia; o que fizeram, enviando-o aos presbíteros por mão de Barnabé e de Saulo. (BSBB).

"... 29 E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia. ...". Note, na narrativa, que foi proporcionalmente aos seus meios que os irmãos em Antioquia ofertaram para os irmãos que sofriam na Judéia. Em outras palavras, deram de acordo com suas capacidades. Aqueles com mais dinheiro deram mais, aqueles com menos dinheiro deram menos.
Ainda, II Coríntios 9:7, diz: "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque DEUS ama ao que dá com alegria."

Aqui, Paulo dá direções à igreja, para que deem aquilo que têm proposto em seus corações. Note que o apóstolo não lhes diz quanto dar, nem lhes impõe uma percentagem fixa como padrão. Ele simplesmente lhes diz que, o que quer que tenham decidido ofertar, devem ir em frente e efetivamente ofertar. A decisão em ofertar deve ser de caráter pessoal e individual, não por imposição de lei.

Sendo assim, estes textos do NT, ensinam que DEUS deixa a decisão em quanto se ofertar, na responsabilidade pessoal. É evidente que se deva doar alguma contribuição em proporção aos meios e a como DEUS tem prosperado a cada um. Afina, há liberdade para que se oferte aquilo que se tem por desejo de dar.

Quão libertador isto é, quando considera-se as táticas manipulativas de arrancar dinheiro que muitas igrejas de hoje tão freqüentemente usam. É possível se assistir, em programas, onde pregadores, dizem que, "amando de DEUS", é preciso que se oferte valores altíssimos, onde tudo, não passa da vontade humana em arrecadar e viver do fruto do suor dos irmãos que ali o entregam. Membros da congregação são pressionados a escrever e telefonar para parentes, pedindo dinheiro. Há campanhas pressionando para promessas (assinaturas de carnês, notas promissórias e outros documentos morais e legais)  e para o fundo de construção, com grandes gráficos coloridos. À medida que o tempo passa, todos são pressionados a dar mais e mais.

5.2 - O Propósito da Oferta
A quais tipos de necessidades devemos usar nosso dinheiro para satisfazer? Será que o Novo Testamento nos dá alguma luz sobre este importante assunto? Creio que as Escrituras são muito claras nesta área. O Novo Testamento ensina que há três propósitos para nosso ofertar:

1. Satisfazer as necessidades dos santos - Este tema é como um fio que vai através de toda a Escritura. Consideremos alguns textos:
Atos 2:44-45:
E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister." O espírito de amor e generosidade era tão grande, na igreja primitiva, que os crentes, de própria vontade e  alegremente, abriram mão de suas próprias propriedades e possessões, para ministrarem às necessidades dos outros santos. Eles chegaram mesmo ao ponto de vender suas terras e casas para tomarem conta um do outro (Atos 4:34).

I João 3:17: "Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de DEUS?"
Gálatas 6:9-10:
E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé." Embora o "façamos bem"  não seja claramente definido, seguramente incluiria o ofertar para satisfazer as necessidades dos domésticos da fé.

Em adição a estes claros textos, pode-se ler também, em Mateus 25:31-40, que, quando Cristo voltar, separará as ovelhas dos bodes. As ovelhas são descritas como aqueles que alimentaram Cristo quando ele estava faminto, deram-lhe de beber quando estava sedento, vestiram-no quando estava nu. Quando as ovelhas replicam: "Senhor, quando ... e te demos de comer?  ... e te demos de beber? 38 ... e te hospedamos?  ... e te vestimos? 39  ... e fomos ver-te?"  Cristo responde: "Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes." Aqui, Jesus diz claramente que quando se usa o dinheiro para vestir e alimentar os irmãos de Cristo (crentes, de acordo com Mateus 12:50 :"... qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe".), estará ministrando a Ele.

Ademais, I Timóteo 5:16: "... para que se possam sustentar as que deveras são viúvas". dá instruções sobre como a igreja deve sustentar viúvas desvalidas. Ainda mais, vê-se nos textos já citados, as muitas exortações do apóstolo Paulo para ofertar aos santos pobres em Jerusalém. Portanto, é bastante claro que uma das prioridades do ofertar no NT é satisfazer as necessidades dos santos.

2. Satisfazer as necessidades dos obreiros cristãos - Além da utilização do dinheiro para satisfazer as necessidades dos irmãos e irmãs em Cristo, as Escrituras também leva a usar o dinheiro para sustentar os que trabalham na obra do Senhor. Considere as seguintes passagens:

I Timóteo 5:17-18: "Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário". (BVN);

Neste texto, "honra" tem que significar mais que meras estima e respeito, pois, no verso 3 do mesmo capítulo, Paulo manda a Timóteo "Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas." Honrar estas viúvas é prover para elas (v. 8) e assisti-las (v. 16). Portanto, quando Paulo menciona "honrar" os anciãos que trabalham duramente na pregação e ensino da Palavra, imediatamente depois que ele mencionou honrar as viúvas, Paulo tem que ter a mesma coisa em mente -- prover e assistir aos anciãos financeiramente, de modo que possam se dedicar ao trabalho de labutarem na Palavra. Um ancião que ensina, é como um boi que deve ser permitido comer enquanto está debulhando. Em outras palavras, deve ser sustentado e cuidado enquanto está trabalhando com todo esforço. Ele também é como um operário, o qual é digno de seu salário. A uniforme prática apostólica do NT foi a de apontar anciãos para superintenderem as igrejas que os apóstolos plantavam. Paulo simplesmente está dirigindo as igrejas a proverem e assistirem financeiramente estes anciãos, de modo que possam dar seu tempo à tarefa de ministrarem ao rebanho.

Ainda em I Coríntios 9:6-14, afirma:
6. Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? 7. Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado? 8. Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo? 9. Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem DEUS cuidado dos bois? 10. Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante. 11. Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais? 12. Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo. 13. Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? 14. Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho. (BVN).

Nesta passagem Paulo está clamando que os apóstolos tinham todo o direito de abster-se de viverem de trabalhos seculares e todo o direito de receberem o sustento material daqueles a quem serviam. De fato, Paulo assevera que o Senhor mandou àqueles que proclamam o evangelho que obtenham seu viver do evangelho.

Filipenses 4:15-18, ainda deixa claro:
15. E bem sabeis também, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente; 16. Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica. 17. Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta. 18. Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância. Cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a DEUS. (BVN).

Neste texto o apóstolo declara expressamente que a dádiva que os filipenses lhe haviam enviado foi um fragrante aroma, um sacrifício aceitável, e foi agradável a DEUS. O próprio DEUS tem dado sua aprovação para que pessoas utilizem o dinheiro dado por DEUS para sustento de fiéis obreiros cristãos. Portanto, é importante que o povo de DEUS utilize seus recursos financeiros para sustentar obreiros cristãos, quer sejam anciãos de uma igreja local, ou evangelistas itinerantes, ou missionários.

3. Satisfazer as necessidades dos pobres - Em adição ao uso do dinheiro para satisfazer às necessidades dos santos e dos obreiros cristãos, as Escrituras também manda usar o dinheiro na satisfação das necessidades dos pobres. Considere os seguintes textos:

Lucas 12:33-34, afirma: 33. Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. 34. Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração." 

Ainda Efésios 4:28, assevera: Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade. Aqui a pessoa que sofre a necessidade não é identificada como crente, mas presumivelmente pode ser qualquer um padecendo privação.

Tiago 1:27, ainda afirma: "A religião pura e imaculada para com DEUS, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo". Visitar órfãos e viúvas em suas necessidades tem que significar mais que fazer-lhes uma mera visitinha social. Está implícita, na declaração, a ideia de ajudar estes órfãos e viúvas, o que, sem dúvidas, requereria ofertar sacrificialmente.

Note que o ofertar, no NT, é sempre para satisfazer as necessidades das pessoas. É interessante que aquela coisa na qual a igreja nas Américas gastam a maior parte do seu dinheiro, depois de pagar o salário do seu pessoal, não é de modo algum mencionada no NT -- prédios da igreja! A Bíblia simplesmente não fala de nenhuma igreja entrando em débito para comprar ou construir prédios caros, pela simples razão de que a igreja primitiva não se reunia em prédios especiais. Eles se reuniam em casas. Assim, não havia despesa "não estrita e diretamente com o evangelho e com pessoas" [tal despesa], só faria drenar a energia e as finanças da igreja. Desta maneira, todas as dádivas do povo de DEUS podiam ir diretamente para satisfazer as necessidades de pessoas.

Incidentalmente, não há nas Escrituras nada que traga conhecimento e que exija que a oferta ao Senhor tenha que ser primeiramente entregue aos líderes da igreja, e depois distribuída por eles, conforme eles o prefiram. De fato, é possível que algumas das dádivas possam ser feitas diretamente de pessoa para pessoa, preservando o anonimato, conforme 

Mateus 6:1-4, que assevera:
Guardai-vos, não façais as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tendes recompensa junto de vosso Pai que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados dos homens; em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando dás esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te retribuirá.

5.3 - A Maneira de se Ofertar
Além de iluminar sobre o valor total e sobre o propósito da oferta, as Escrituras ensina diversas coisas sobre como deve-se ofertar, veja:

1. Deve-se ofertar anonimamente - Mateus 6:1-4, já mencionado anteriormente, Jesus acaba por ensinar que a oferta deve ser em segredo, para que aquele que vê em segredo venha trazer recompensa. Este tipo de ofertar é preferível pois protege o dadivador de orgulho espiritual. Quando quiseres dar uma oferta a alguém, procure maneiras de satisfazer a necessidade que percebestes, sem que o beneficiário jamais saiba quem deu o dinheiro.

2. Deve-se ofertar voluntariamente - II Coríntios 8:3-4 afirma: 3. Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente. 4. Pedindo-nos com muitos rogos que aceitássemos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos. (BVN).

O que se afirma aqui é que, as igrejas da Macedônia deram de suas próprias vontades. Ninguém os estava manipulando - emocional e psicologicamente - nem lhes torcendo o braço - obrigando-os. Em II Coríntios 9:7, Paulo ainda afirma: "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque DEUS ama ao que dá com alegria".  A oferta não deve ser com tristeza ou sob compulsão externa, e sim, a oferta deve ser de forma voluntaria, anônima e com prazer e alegria. DEUS quer que a oferta de Seus filhos provenha do coração.

3. Deve-se ofertar em expectativa - Quando se oferta, deve-se esperar que DEUS abençoe nesta presente vida. Veja os ensinamentos do apóstolo Paulo, quando fala em II Coríntios 9:6, que diz:  "E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará". As bênçãos estão para aqueles que semeiam.

Quando alguém semeia por girar seu braço e espalhando abundantemente as sementes com a mão aberta, parece que está apenas jogando fora bom grão. Mas, se ele firmemente prendesse as sementes na sua mão, não deixando nenhuma cair no solo, ou se apenas jogasse uma ou duas sementes, teria uma ceifa muito pequena. Assim também com o ofertar do crente: Se nada é dado ou se doa muito pouco, nada ou poucamente se colherá em bênçãos. Agora, só se poderá colher em abundancia, se a semeadura for abundante.

Agora, há necessidade de cautela na interpretação de II Coríntios 9:9, para que se não torça os ensinamentos, como se ensinasse que DEUS quer que se oferte tendo, dentro de si, o objetivo de receber. Este tipo de ensino apela para a carne, e faz crescer um espírito de avareza e cobiça nos crentes. Mas, ao contrário disto, Paulo nesta passagem está ensinando que se deve ofertar com o objetivo de receber mais para se ofertar ainda mais.

Certo que Paulo expressa isto, nos versos 8-11 de II Coríntios 9, que afirma:
8. E DEUS é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, A FIM DE QUE, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; 9. Conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre. 10; Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça; 11. Para que em tudo enriqueçais PARA toda a beneficência, a qual faz que por nós se deem graças a DEUS. (BVN).

Note que, nesta passagem, Paulo está asseverando que DEUS abençoará o ofertante de forma generosa, fazendo toda a graça abundar sobre ele, para que, em consequência, este tenha uma abundância para toda boa obra. Ademais, DEUS promete multiplicar a semente do ofertante para semear e promete aumentar a colheita de sua retidão. Estas passagens sem dúvida alguma apontam para o fato de que DEUS abençoa aqueles que ofertam, de modo que possam dar ainda mais.

Uma vez que DEUS é o maior ofertante de todos, deve-se haver esforço para que se seja a semelhança dEle. E a única maneira de se ser maiores ofertantes no futuro é começar a dar generosamente agora! É muito interessante que isto seja exatamente o que os Provérbios de Salomão ensina, embora tenham sido escritos centenas de anos antes. Veja: "Ao SENHOR empresta o que se compadece do pobre, Ele lhe pagará o seu benefício". (Provérbios 19:17 - BVN).

Ainda em Provérbios 11:24-25, tem-se a garantia: "Ao que distribui mais se lhe acrescenta, e ao que retém mais do que é justo, é para a sua perda.  A alma generosa prosperará e aquele que atende também será atendido". (BVN).

Em adição, também deve-se esperar que DEUS abençoará na vida futura. Se há uma coisa que a Bíblia deixa muito clara é que, quando se oferta, as pessoas acabam por entesourar tesouros no céu. Note a ênfase nos tesouros celestiais, futuros, nas seguintes passagens:
Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. (Mateus 6:19-21 - BVN).
Lucas 12:33: "Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói". (BVN).
Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna. (I Timóteo 6:18-19 - BVN).

Em todas estas passagens (quer dirigidas aos discípulos, ao rico jovem proprietário, ou aos opulentos crentes de Éfeso) a mensagem é a mesma -- o generoso ofertar será recompensado por tesouros celestiais. Preferirias tu ter seu tesouro na terra, onde perecerá, ou no céu, onde o gozarás eternamente? Tua resposta a esta pergunta terá muito a ver com o como verás e usarás tuas riquezas.

4. Deve-se Ofertar Animadamente, com Alegria - Em II Coríntios 9:7, é possível verificar a forma de como se deve fazer a oferta: "Cada um contribua segundo propós no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque DEUS ama ao que dá com alegria". (BVN). Se cada crente soubesse quão grande chuva de bênçãos gozaria através do ofertar, seriam como os crentes da Macedônia, que imploraram a Paulo para terem a oportunidade de ofertar, conforme II Coríntios 8:3-4, que afirma: "porque testifico que segundo as suas forças e além das suas forças contribuíram espontaneamente, pedindo-nos com muitas súplicas o favor de se associarem neste serviço pelos santos". (BVN).

Ofertar deveria ser visto como um grande privilégio, não como uma pesada carga ou um doloroso dever. DEUS não deseja que seu povo doe movido por um sentimento de compulsão - ser empurrado à força e contra a vontade - mas sim, movido por uma atitude de alegria e animação. A suprema e definitiva passagem no NT que declara a atitude com a qual deve-se ofertar, descreve: "com alegria". Que DEUS ajude aos seus e coloque no coração a ofertar em um espírito que O honre!

5. Deve-se Ofertar Sacrificialmente - Nas Escrituras tem-se vários exemplos onde DEUS olha com aprovação para o ofertar de maneira sacrificial. Veja o que II Coríntios 8:1-5, acaba por definir:
Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de DEUS dada às igrejas da Macedónia; Como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade.  Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente. Pedindo-nos com muitos rogos que aceitássemos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos. E não somente fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor, e depois a nós, pela vontade de DEUS. (BVN).

Logo de partida, nota-se que os crentes macedônicos tinham pouquíssimos dinheiro e bens. São descritos como estando suportando muita aflição e experimentando profunda pobreza. Apesar de tudo, também é dito que tinham ofertado além das suas possibilidades! Que DEUS habilite a cada um para que seja imitadores dos irmãos de Macedônia.

Ainda Marcos 12:41-44, afirma:
E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos deitavam muito. Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento. (BVN).

Jesus escolheu esta mulher para servir aos seus discípulos de maravilhoso exemplo do ofertar. Quando Cristo viu o espírito sacrificial dela - amoroso e de vontade livre e boa, Ele chamou os Seus discípulos para se aproximarem, observarem, e aprenderem uma lição, através da vida dela. Que também é possível o aprendizado agora e se faça de maneira semelhantemente.

5.4 - A Motivação do Ofertar
Agora que já se foi visto os que as Escrituras ensinam com referência ao total, ao propósito, e à maneira de se ofertar, é possível voltar para examinar o que a Bíblia ensina sobre qual deve ser a motivação da oferta.

1. O Exemplo de Cristo - Justo na metade da mais extensa exposição do NT sobre o ofertar  (II Coríntios 8-9), o apóstolo Paulo lança mão do exemplo de Jesus Cristo para estabelecer qual deve ser a maior motivação. Considere as palavras de Paulo em II Coríntios 8:9, que afirma: "Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis". (BVN).

Cristo era infinitamente rico em sua existência pré-encarnação, no céu. Era incessantemente adorado por uma grande hoste de seres angelicais. Sendo DEUS, exercia onipotência, onisciência e onipresença. Juntamente com o Pai e o Espírito Santo, reinava sobre todo o universo que tinham criado. Todavia, Cristo de livre vontade escolheu se tornar pobre. Jogou no chão seu direito ao exercício independente de seus atributos. 

Nasceu em um estábulo e foi criado por pais muito pobres. Viveu uma vida obscura e simples.  Dependeu do DEUS Pai para toda a Sua sobrevivência. Nunca acumulou posses durante todo o tempo de sua vida; na verdade, parece que as únicas posses que Ele podia chamar de suas foram as roupas sobre suas costas. Ao final de sua vida, pela própria vontade, entregou-se a única coisa que ainda lhe restava, sua própria vida. Ao depor sua vida Jesus estava dando tudo, para nos livrar a todos de seus pecados. Embora fosse rico, tornou-se pobre. E qual foi o propósito deste grande ato de sacrifício? Foi que, através de sua pobreza, todos se tornassem ricos.

Os que creem nEle, acabam herdando grandes riquezas: perdão, adoção, justificação, DEUS, por meio Espírito Santo habitando na vida, paz com DEUS, acesso a DEUS, santificação, e a glória eterna que em breve virá! Note que Cristo não deu apenas dez por cento dos seus recursos ao comprar a humanidade e presentear tamanhos tesouros! Ele deu 100%! Um discípulo naturalmente deseja ser como seu senhor. Portanto, é preciso que se empenhe esforçadamente para imitar o Senhor.

Não se contente em dar uma pequena fração de sua renda. Ore para que DEUS o habilite a dar mais e mais, para ajudar pessoas sofrendo e para expandir o reino de DEUS através do mundo!

2. A Ordem de Cristo - Não apenas se te o exemplo de Cristo como fator motivador, como também sua ordem. Jesus expressou-se muito claramente em João 15:12-13: "O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos". (BVN). Jesus, nesta passagem, está ordenando aos seus seguidores que amem um ao outro de modo idêntico àquele com que Ele os amou -- a saber, sendo totalmente dedicado a eles. Este tipo de dedicação tem que, pela própria natureza do caso, incluir a vontade de se dar os recursos para ajudar um ao outro. Jesus deu tudo, inclusive sua própria vida.

É deste modo que Ele convida a cada um e ordena a amar um ao outro. Só se sabe o tamanho do amor que se tem para com um irmão, por meio do desejo de abrir a mão no momento em que ele estiver necessitando, satisfazendo suas reais necessidades.

Que DEUS habilite a cada um na missão de seguir seu Filho em obediência!


CONCLUSÃO

É verdade que houve a extrema vontade em não alongar o referido tema. É complexo e pode-se aprofundar muito além do que até aqui foi mencionado.

O fato motivacional é que, todos sejam libertos do julgo. Vive-se a Nova Aliança! Sendo assim, não cabe a frenética ambição especulativa do levantamento de dízimos e ofertas da maneira que se é feita em quase sua totalidade. O Filho libertou da escravidão/obrigação. Também Ele não pode ser chantageado por homens.

De certa forma, no NT, a questão do dízimo e ou oferta, trouxe sobre a vida de Seus filhos, maior responsabilidade no ofertar. É preciso que se entenda que dEle é TUDO. Nada pertence aos que se declaram filhos de DEUS. Se Ele proporciona que você tenha uma vida regrada por meio de recursos financeiros, é porque Ele quer que você também ajude aqueles necessitados.

Isso não leva a tomada de decisão de que, não estando mais sob a Lei, não pesa a responsabilidade de se ofertar. Pessoas necessitam das ofertas, como por exemplo: pastores que largaram tudo para o Evangelho, missionários, obras de caridade, dentre outros.

Pense: "Nenhum homem jamais perdeu coisa alguma servindo a DEUS com todo o coração, e nenhum homem ganhou nada servindo a si mesmo com todo o coração". (Fausset, in loc).

Viva em VIDA PLENA!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON, Brian. O Dízimo do Velho Testamento, versus o ofertar do Novo Testamento. Disponível em: <http://solascriptura-tt.org/VidaDosCrentes/ ComRiquezas/DizimoVT-X-OfertarNT-Anderson.htm>. Acessado em: 29 jun. 18.

Bíblia Sociedade Bíblica Britânica. Disponível em: <https://www.bibliaonline. com.br/tb>. Acesso em: 29 jun. 2018.

CHAMPLIN, R.R. ENCICLOPÉDIA DE BÍBLIA TEOLOGIA E FILOSOFIA. 8ª. Ed. SÃO PAULO: Hagnos, 2006. 201-203 p. v. 02.

CHAMPLIN, R.R. O ANTIGO TESTAMENTO INTERPRETADO VERSÍCULO POR VERSÍCULO. 2ª. Ed. SÃO PAULO: Hagnos, 2001. 3703-3711 p. v. 05.
Dízimo. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%ADzimo>. Acessado em: 29 jun. 18.

ELWELL, Walter A. Enciclopédia HISTÓRIOCO-TEOLÓGICA da Igreja Cristã. SÃO PAULO: Vida Nova, 1993. 487-488 p. v. 1.

MAHONEY, Ralph. O Cajado do Pastor. Tradução: Marcos Taveira, Nadya Denis, Marlene Medina. BURBANK: World MAP, 1998.

SHEDD, Russell P. A BÍBLIA VIDA NOVA. Traduzida em português por: João Ferreira de Almeida. São Paulo: Vida Nova, 1995.




[1] Pastor. Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia. Pós-graduado em: Liderança e Administração Eclesiástica; Aconselhamento e Psicologia Pastoral; Terapia Familiar. Graduado Haggai. Mestre em Teologia (livre). E-mail: robinson.luis@bol.com.br

[2] Significa «relativo ao Velho Testamento». É uma palavra constituída por vetero- (do latim vetus, vetĕris, «velho») e pelo adjectivo/adjetivo testamentário, «relativo a testamento». Disponível em: < https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/veterotestamentario/19389>. Acessado em: 30 jun. 18.