Robinson
L Araujo[1]
De fato, existe um
grande "problema" quando oramos é o de estar preparado para receber a
resposta da oração.
Muitas
vezes achamos que não sabemos ou temos capacidade para orar. Os discípulos de
Jesus, mesmo andando algum tempo com Ele, em Lucas 11:1, um de seus discípulos
pede: "...Senhor, ensina-nos a orar...". O curioso que naquele
momento, Jesus estava orando em determinado lugar.
Já
no livro de Mateus 6:5-8, o Senhor apresenta algumas maneiras de como orar e de
como não orar, vejamos:
5. “Quando vocês orarem, não sejam como
os hipócritas, que gostam de orar em público nas sinagogas e nas esquinas, onde
todos possam vê-los. Eu lhes digo a verdade: eles não receberão outra
recompensa além dessa. 6. Mas, quando orarem, cada um vá para seu quarto, feche
a porta e ore a seu Pai, em segredo. Então seu Pai, que observa em segredo, os
recompensará. 7. “Ao orar, não repitam frases vazias sem parar, como fazem os
gentios. Eles acham que, se repetirem as palavras várias vezes, suas orações
serão respondidas. 8. Não sejam como eles, pois seu Pai sabe exatamente do que
vocês precisam antes mesmo de pedirem.
Assim,
encontramos:
ü Não
usar a oração como forma de engrandecimento;
ü Estar
no secreto com DEUS;
ü Não
usar de vans repetições, o famoso "encher linguiça";
ü O
Pai Abba sabe do que precisamos antes
mesmo de Lhe pedir.
Em
seguida, Jesus Passa a lhes demonstrar de que forma se deve orar, versos de 9 a
13 de Mateus 6:
9. “Portanto, orem da seguinte forma: Pai
nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome. 10. Venha o teu reino.
Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. 11. Dá-nos hoje o pão
para este dia, 12. e perdoa nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos
devedores. 13. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Pois
teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.
Um
modelo a ser seguido e não somente repetido, como um "mantra".
Outra
característica que a oração deve ter, seria continuidade, como em I Tessalonicenses
5:17, que diz: "Nunca deixem de orar", em outras traduções:
"orai sem cessar".
Quando
se propõe a viver uma vida de oração sem cessar, creio que aqui somos levados
ao quebrantamento de nosso ego pela crucificação dele na cruz do calvário. Daí,
realmente começará, como falei no início, o nosso "problema" em orar
e pedir ao Senhor.
Será
que queremos realmente o que pedimos e estamos preparados para receber aquilo
que pedimos por meio de nossas orações? Já orou ao Senhor pedindo para
dedicar-se mais em sua vida de oração? Já orou para ter mais entendimento vivo
e consciente da presença de DEUS dentro de você durante o dia? Para que Ele
melhore seus relacionamentos e lhe dê humildade? Acho que não!
Por
que então, quando o Senhor responde nossas preces, acabamos por nos retrairmos
chocados e tristes, pelo fato da resposta ao que pedimos? Pedimos muitas vezes
amadurecimento cristão e crescimento espiritual, porém não queremos - ao menos
da maneira que o Senhor quer nos dar. Esquecemos que a resposta vem dEle e não
é do desejo que desejamos.
O
problema de orarmos é que DEUS responde as nossas orações! É a melhor forma de
DEUS nos puxar para perto dEle.
"Senhor,
faz de mim o que devo ser; muda-me, a qualquer custo". Ao proferir essas
palavras perigosas, devemos estar preparados para que Deus as ouça. Essas são
palavras perigosas porque o amor de Deus não tem remorsos. Deus quer nossa
salvação com a determinação de sua devida importância. E, conclui o Pastor de Hermas:
"Deus não nos deixa até que nos tenha partido o coração e os ossos".
Ele ainda diz: "Devemos ser cuidadosos para não buscar experiências
místicas quando deveríamos buscar arrependimento e conversão".
Daí
vem às palavras de Jesus: "Aprendam de Mim, pois Sou manso e humilde de
coração". (Mateus 11:29).
O
que é ser humilde? É
a dura percepção e aceitação do fato de que sou totalmente dependente
do amor e da misericórdia de Deus. Ela cresce por meio de um despir-se de toda
auto-suficiência. A humildade não se adquire com a repetição de frases
piedosas; ela é executada pela mão de Deus. É Jó sobre o monturo vez após outra
enquanto Deus nos lembra de que ele é a única esperança verdadeira. É a afirmação
de Apocalipse 3:17 que afirma: "Você diz: ‘Sou rico e próspero, não preciso de coisa
alguma’. E não percebe que é infeliz, miserável, pobre, cego e está nu".
Manning
(2014. p.125) nos apresenta uma lenda cristã muito antiga:
Quando o Filho de Deus pregado à cruz
entregou o espírito, foi diretamente da cruz ao inferno libertar todos os
pecadores que estavam em tormento ali. O Diabo chorou e lamentou, porque
pensava que não conseguiria mais pecadores para o inferno. Então Deus disse a
ele: "Não chore, pois vou lhe mandar todos aqueles santos que se tornaram
complacentes na consciência de sua bondade e cheios de justiça própria na
condenação dos pecadores. E o inferno se encherá novamente por gerações até que
eu volte"[2]
Na maior parte do tempo o cristão auto-suficiente está cego
para suas arrogantes pretensões. Ele segue seu caminho feliz recitando
frasezinhas piedosas como: "Jesus, mantém-me humilde". E por fim o
Deus que não pode ser manipulado ou controlado replica: "Tudo bem. Você
quer ser humilde? Esta sequência de humilhações e fracassos deve dar um jeito
nisso".
A escola da humilhação é uma grande experiência de aprendizado;
não há outra igual. Quando o dom de um coração humilde é concedido,
aceitamo-nos mais e nos tornamos menos críticos dos outros. O autoconhecimento traz
uma consciência humilde e realista de nossas limitações. Leva-nos a ser
pacientes e compassivos para com os outros quando éramos antes exigentes,
insensíveis e arrogantes. Desaparecem a complacência e a estreiteza de mente
que tornam Deus supérfluo. Para a pessoa humilde, existe a constante
consciência da própria fraqueza, insuficiência e desesperada carência de Deus.
É claro que a experiência mais devastadora da redução do
ego acontece quando oramos: "Senhor, aumenta a minha fé". Temos de
pisar com cuidado aqui, porque a vida de pura fé é como uma noite escura. Nesta
"noite" DEUS permite que vivamos pela fé, e pela fé apenas. Uma fé madura
não tem como crescer enquanto estamos empanturrados de todos os tipos de
confortos e consolações espirituais. Todos esses devem ser removidos se é para
avançarmos na direção da pura confiança em DEUS. O Senhor retira todas as
escoras tangíveis a fim de nos purificar o coração, para discernir se estamos apaixonados
pelos dons do Doador ou pelo Doador dos dons.
Muitas vezes as nossas orações tomaram um sentido
superficial, são como um sino que soa na nossa alma vazia. O Espírito Santo que
habita dentro de nós, convida-nos a sair da superficialidade e a penetrarmos em
solo mais profundos.
É tranquilizador saber que o crescimento na fé tão
desejado não está distante; que o amor e a misericórdia de DEUS não nos
abandona, mesmo quando achamos que Ele foi "radical"em sua resposta a
nossa oração.
Essa resposta a nossa oração de forma contrária ao que
esperávamos, acaba por nos levar a um encontro com Jesus Cristo de uma forma
diferente, marcando o começo de uma vida mais profunda de fé, na qual florescem
alegria e paz, mesmo diante da "escuridão" que a resposta de nossa
oração nos levou a experimentar, por não criarem raízes em sentimentos humanos
de forma superficial, mas na profundidade da certeza misteriosa da fé de que
Ele é o mesmo ontem, hoje e sempre. A alegria e a tristeza podem destruir os
nossos sentimentos, mas sob essa superfície em movimento DEUS habita na
escuridão. É lá que vamos encontrá-Lo; é lá que passamos a orar em paz e em
silêncio, atentos ao DEUS cujo amor não conhece sombra de mudança.
DEUS acaba nos despindo de nossos encantamentos naturais
e das consolações espirituais a fim de penetrar mais fundo em um relacionamento
de intimidade em nosso coração. A nossa maturidade cristã está em conceder a
DEUS a liberdade de exercer Sua sabedoria soberana em nós, sem que por
frustração, abandonemos uma vida de
oração disciplinada, nem que corramos para as distrações que o mundo nos
oferece.
É
quando chegamos ao fundo do poço e somos esvaziados de tudo o que consideramos
importante, então passamos a orar de verdade, tornamo-nos humildes e
desapegados de verdade e vivemos na escuridão brilhante da fé. Em meio a esse
esvaziamento, que temos a certeza que o Senhor não nos abandonou, Ele trabalhou
para que os obstáculos que atrapalhavam minha comunhão com ele fossem retirados
e passamos a desfrutar de uma comunhão mais profunda com Ele. Vejamos a
diferença de oração, descrita em Lucas 18:10-14:
10. “Dois homens foram ao templo orar. Um
deles era fariseu, e o outro, cobrador de impostos. 11. O fariseu, em pé, fazia
esta oração: ‘Eu te agradeço, Deus, porque não sou como as demais pessoas:
desonestas, pecadoras, adúlteras. E, com certeza, não sou como aquele cobrador
de impostos. 12. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo que ganho’.
13. “Mas o cobrador de impostos ficou a distância e não tinha coragem nem de
levantar os olhos para o céu enquanto orava. Em vez disso, batia no peito e
dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, pois sou pecador’. 14. Eu lhes digo que
foi o cobrador de impostos, e não o fariseu, quem voltou para casa justificado
diante de Deus. Pois aqueles que se exaltam serão humilhados, e aqueles que se
humilham serão exaltados”.
Nenhuma
mente humana jamais compreendeu as profundezas da desolação da noite escura que
o próprio Jesus Cristo viveu, a solidão e abandono completo por trás do clamor
de Jesus descrito em Mateus 27:46: "Por volta das três da tarde, Jesus clamou em alta voz: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer
dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.
A cruz é o símbolo de nossa salvação e
deve ser o padrão de nossa caminhada, pois, tudo o que aconteceu a Cristo, de
certa forma acabou nos envolvendo e vivemos de alguma forma. Quando a escuridão
chega, fruto de nossas orações, ela acaba nos envolvendo, tornando-nos surdos a
tudo, menos ao grito de nossa própria dor e clamor, é bom sabermos que DEUS
está traçando em nós o caráter de Seu Filho.
Para o Filho, a escuridão da noite abriu
caminho para a luz da manhã, conforme Filipenses 2:9-11 que dia:
9. Por isso Deus o elevou ao lugar de
mais alta honra e lhe deu o nome que está acima de todos os nomes, 10. para
que, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, nos céus, na terra e debaixo da
terra, 11. e toda língua declare que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de
Deus, o Pai.
Estamos
preparados para a resposta de nossas orações? Estou pronto para que o Senhor
retire todas as estacas que possam impedir a minha comunhão plena para com Ele?
E se a escuridão da noite chegar, qual será minha reação?
Que
a oração de São Francisco de Assis, seja uma verdade em nossa vida...
Senhor,
fazei-me instrumento de vossa paz
Onde
houver ódio, que eu leve o amor
Onde
houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde
houver a discórdia, que eu leve a união
Onde
houver dúvida, que eu leve a fé
Onde
houver erro, que eu leve a verdade
Onde
houver desespero que eu leve a esperança
Onde
houver a tristeza, que eu leve alegria
Onde
houver trevas, que eu leve a luz
Ó
mestre, fazei-me que eu procure mais, consolar que ser consolado
Compreender
que ser compreendido
Amar,
que ser amado
Pois
é dando que se recebe
É
perdoando que se é perdoado
E é
morrendo que se vive para a vida eterna
REFERÊNCIAS
Bíblia Nova Versão
Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>.
Acessado em: 24 nov. 2020.
MANNING, Brennan. A
assinatura de Jesus: o chamado a uma vida marcada por paixão santa e fé
inabalável. Traduzido por Maria Emília de Oliveira. 1 ed. São Paulo: Editora
Vida, 2014.
[1] Pastor - discípulo de Cristo -
e-mail: robinson.luis@bol.com.br - Redes sociais: @prrobinsonlaraujo - 15/12/20.
[2] Anthony DEMELLO, The Song of the Bird, p. 134