Robinson
L Araujo[1]
Quantos holofotes! Quantas
publicações, visualizações, curtidas, comentários e compartilhamentos! Quanta
vontade de encontrar o nosso "eu", quem realmente somos. É o dilema
que temos trabalhado nestes dias, por meio de uma leitura saudável e na busca de
respostas, contrariando o pensar pós-moderno.
Com a
vida espiritual não é nada diferente. Tanto é que MANNING (2007, p. 54) afirma
que: "A espiritualidade não é um compartimento ou uma esfera da vida.
Antes, é um modo de viver - o processo da vida a partir da perspectiva da fé. A
santidade está em descobrir, perseguir e viver o "eu" verdadeiro.
Viver
o "eu" verdadeiro! Falar é muito fácil, mas como descobrir que "eu" é verdadeiro e qual é falso? Existiria um "eu" falso?
John
Eagan, que foi um professor discreto de um colégio em Milwaukee, deixou
publicado em seu diário[2]:
Somos
os maiores obstáculos para alcançarmos a nobreza da alma - que é exatamente o
significado da santidade. Consideramo-nos servos indignos, e esse juízo
torna-se uma profecia que a própria vida se encarrega de cumprir. Julgamo-nos
insignificantes demais para sermos usados por DEUS, mesmo sendo Ele capaz de
realizar milagres usando apenas lama e saliva. Assim, nossa falsa humildade
agrilhoa um DEUS que, ao contrário, é onipotente.
É nesses
termos que afirmamos que "as palavras tem valor, poder e vida". Muitos
se sentem menosprezados por achar que não possuem jeito ou que DEUS não às ama
da forma que são. Ou, por vezes, acabam por se espelhar em outros que são
chamados e pensam ser "verdadeiros" líderes. Que DEUS trabalha pela
vida deles, esquecendo-se que DEUS usa a quem Ele quer. Se julgando incapazes, ajudando
outros a criarem dentro de si o mais cruel do impostor.
DEUS
está pedindo a mim, o indigno, para esquecer minha indignidade e a de meus
irmãos e ousar seguir adiante no amor que redimiu e renovou todos nós à
semelhança de DEUS. E para, em última análise, rir dessas ideias absurdas de
'merecimento'. Faça do Senhor e de imenso amor dEle para você elementos
constitutivos de seu valor pessoal. Defina-se radicalmente como alguém amado
por DEUS. O fato de DEUS amá-lo e escolhê-lo determina o seu valor. Aceite isso
e permita que se torne a coisa mais importante da sua vida.
Somos
sim, merecedores de algo que nos completa por inteiro, a Graça de DEUS, como o
livro de Efésios 2:8-9 afirma: "Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de
vocês; é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pela prática de boas
obras, para que ninguém venha a se orgulhar".
Somos amados de DEUS! Isaías confirma: "Mas
agora, ó Jacó, ouça o Senhor que o criou; ó Israel, assim diz aquele que o
formou: “Não tema, pois eu o resgatei; eu o chamei pelo nome, você é Meu. Quando
passar por águas profundas, estarei a seu lado. Quando atravessar rios, não se
afogará. Quando passar pelo fogo, não se queimará; as chamas não lhe farão mal.
Pois eu sou o Senhor, seu DEUS, o Santo de Israel, seu Salvador". (Isaías
43:1-3a).
A quem Ele chamou de Jacó e Israel, você
substitua pelo seu nome e olhe seu retrato em um espelho e diga a você
mesmo: "Você pertence a DEUS e isso não lhe rebaixa a nada". Você é
exaltado por Ele!
Diferentemente
como muitos se julgam a base do valor de uma pessoa não é constituída pelas
posses, talentos, da admiração dos outros, de reputação (...) nem das manifestações
de reconhecimento por parte dos pais e filhos, do aplauso ou da importância que
todos lhe atribuem (...). Assim, permaneça firme em DEUS, diante de quem te
encontrou despido - esse DEUS que diz: "Você é meu filho, meu amado".
Manning
(2007), ainda afirma que: "Enquanto a identidade do impostor procede das
conquistas do passado e da adulação dos outros, o "eu" verdadeiro se
identifica pelo amor do qual é alvo. Encontramo-nos com DEUS no que a vida tem
mais de comum - não na busca de êxtases espirituais
ou experiências místicas extraordinárias, mas no simples fato de estar vivos
(grifo nosso).
I João
4:16 "Sabemos quanto DEUS
nos ama e confiamos em seu amor. DEUS é amor, e quem permanece no amor
permanece em DEUS, e DEUS nele". Se estamos em DEUS e permanecemos
em Seu amor, Ele também está. Se Ele está, temos dentro de nós o melhor de
DEUS, não somos qualquer um, pois o Melhor habita em nós, o Espírito Santo, a
Essência do próprio DEUS.
Por ironia,
a própria igreja pode afagar o "eu" impostor, conferindo ou negando-lhe
honrarias, oferecendo o orgulho de uma posição baseada em desempenho e criando
uma ilusão de status por classe e hierarquia. E, com as "melhores" das
intenções, acaba-se caindo nas artimanhas do impostor que vive dentro de cada
um, despertando-o para a pior das intenções: "o espiritual", julgando
as outras inferiores.
Então,
quem sou? Sou aquele amado por Jesus Cristo!
Lembre-se
da força da declaração assentada em João 3:16, quando afirma: "“Porque DEUS amou tanto o mundo
que deu seu Filho único, para que todo o que nEle crer não pereça, mas tenha a
vida eterna". "DEUS amou o mundo" foi tão abafada pela
retórica religiosa que não ouvimos mais a palavra que revela a ternura de DEUS
para conosco? Sim!
Pessoas
são convidadas não para o arrependimento, com a intenção de crucificar sua
"velha natureza" ou o "velho homem", o impostor que habita dentro
de si e o puxando para baixo na tentativa de destruí-lo e sim, pelas beneficências
que o suposto evangelho da prosperidade possa ofertar a ela.
Diante
de tal fato, existe a necessidade de nos afastarmos para o silêncio. É no silêncio
que descobrimos quem somos e nos aproximamos mais de DEUS. É longe das turbulências
que o cotidiano nos apresenta que encontra-se a paz necessária para se ouvir a
voz de DEUS e se ter um relacionamento sincero para com Ele.
Manning
(2007) ainda nos diz que o silêncio não é simplesmente a ausência de barulho
nem a interrupção da comunicação com o mundo exterior, mas um processo para se
alcançar a tranquilidade. É impossível conhecer outra pessoa intimamente sem
dedicar tempo para ficar junto dela. Você não se vê como realmente é por causa
de toda aquela confusão e agitação. Deixa de reconhecer a presença Divina em
sua vida, e a consciência de ser o amado desaparece aos poucos.
Gastar
tempo com DEUS de forma consciente capacita-me a falar e agir com uma força
maior, perdoar em vez de alimentar a última ofensa ao meu ego ferido, agir com
generosidade nos momentos mais banais. Enche-me de poder para que eu seja capaz
de abandonar o "eu", pelo menos temporariamente, num contexto maior
que o meu mundinho de medos e inseguranças, apenas me aquietar e saber que DEUS
é DEUS, afirma Manning (2007).
Tentamos
esconder nossa insignificância e a "lama" da culpa. Chegamos a nos
esgoelar para impressionar DEUS como se fossemos verdadeiros puritanos e assim,
brigamos para chamar Sua atenção, debatemos na tentativa de consertar nossos
defeitos e vivemos o evangelho de modo tão sem graça que mal conseguimos atrair
os cristãos nominais e o pior de tudo, os incrédulos à Verdade.
A melhor
identidade que se pode adquirir é ser "amado de DEUS", vivendo o
nosso "eu" verdadeiro, crucificando o impostor que existe dentro de
mim. Aprendendo a caminhar e viver em Vida Plena. Qualquer outra identidade é
ilusão.
REFERÊNCIAS
Bíblia Nova Versão
Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>.
Acessado em: 25 set. 2020.
MANNING, Brennam. O impostor
que vive em mim. Tradução de Marson Guedes. 2ªed. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.
MERTON, Thomas. The
Hidden Ground of Love: Letters. New York: Farrar, Strauss, Giroux, 1985.