sexta-feira, 25 de setembro de 2020

NO SILÊNCIO QUE SE ENCONTRA O VERDADEIRO "EU"

 


Robinson L Araujo[1]

 

Quantos holofotes! Quantas publicações, visualizações, curtidas, comentários e compartilhamentos! Quanta vontade de encontrar o nosso "eu", quem realmente somos. É o dilema que temos trabalhado nestes dias, por meio de uma leitura saudável e na busca de respostas, contrariando o pensar pós-moderno.

Com a vida espiritual não é nada diferente. Tanto é que MANNING (2007, p. 54) afirma que: "A espiritualidade não é um compartimento ou uma esfera da vida. Antes, é um modo de viver - o processo da vida a partir da perspectiva da fé. A santidade está em descobrir, perseguir e viver o "eu" verdadeiro.

Viver o "eu" verdadeiro! Falar é muito fácil, mas como descobrir que "eu" é verdadeiro e qual é falso? Existiria um "eu" falso?

John Eagan, que foi um professor discreto de um colégio em Milwaukee, deixou publicado em seu diário[2]:

Somos os maiores obstáculos para alcançarmos a nobreza da alma - que é exatamente o significado da santidade. Consideramo-nos servos indignos, e esse juízo torna-se uma profecia que a própria vida se encarrega de cumprir. Julgamo-nos insignificantes demais para sermos usados por DEUS, mesmo sendo Ele capaz de realizar milagres usando apenas lama e saliva. Assim, nossa falsa humildade agrilhoa um DEUS que, ao contrário, é onipotente.

É nesses termos que afirmamos que "as palavras tem valor, poder e vida". Muitos se sentem menosprezados por achar que não possuem jeito ou que DEUS não às ama da forma que são. Ou, por vezes, acabam por se espelhar em outros que são chamados e pensam ser "verdadeiros" líderes. Que DEUS trabalha pela vida deles, esquecendo-se que DEUS usa a quem Ele quer. Se julgando incapazes, ajudando outros a criarem dentro de si o mais cruel do impostor.

DEUS está pedindo a mim, o indigno, para esquecer minha indignidade e a de meus irmãos e ousar seguir adiante no amor que redimiu e renovou todos nós à semelhança de DEUS. E para, em última análise, rir dessas ideias absurdas de 'merecimento'. Faça do Senhor e de imenso amor dEle para você elementos constitutivos de seu valor pessoal. Defina-se radicalmente como alguém amado por DEUS. O fato de DEUS amá-lo e escolhê-lo determina o seu valor. Aceite isso e permita que se torne a coisa mais importante da sua vida.

Somos sim, merecedores de algo que nos completa por inteiro, a Graça de DEUS, como o livro de Efésios 2:8-9 afirma: "Vocês são salvos pela graça, por meio da fé. Isso não vem de vocês; é uma dádiva de Deus. Não é uma recompensa pela prática de boas obras, para que ninguém venha a se orgulhar".

Somos amados de DEUS! Isaías confirma: "Mas agora, ó Jacó, ouça o Senhor que o criou; ó Israel, assim diz aquele que o formou: “Não tema, pois eu o resgatei; eu o chamei pelo nome, você é Meu. Quando passar por águas profundas, estarei a seu lado. Quando atravessar rios, não se afogará. Quando passar pelo fogo, não se queimará; as chamas não lhe farão mal. Pois eu sou o Senhor, seu DEUS, o Santo de Israel, seu Salvador". (Isaías 43:1-3a).

A quem Ele chamou de Jacó e Israel, você substitua pelo seu nome e olhe seu retrato em um espelho e diga a você mesmo: "Você pertence a DEUS e isso não lhe rebaixa a nada". Você é exaltado por Ele!

Diferentemente como muitos se julgam a base do valor de uma pessoa não é constituída pelas posses, talentos, da admiração dos outros, de reputação (...) nem das manifestações de reconhecimento por parte dos pais e filhos, do aplauso ou da importância que todos lhe atribuem (...). Assim, permaneça firme em DEUS, diante de quem te encontrou despido - esse DEUS que diz: "Você é meu filho, meu amado".

Manning (2007), ainda afirma que: "Enquanto a identidade do impostor procede das conquistas do passado e da adulação dos outros, o "eu" verdadeiro se identifica pelo amor do qual é alvo. Encontramo-nos com DEUS no que a vida tem mais de comum - não na busca de êxtases espirituais ou experiências místicas extraordinárias, mas no simples fato de estar vivos (grifo nosso).

I João 4:16 "Sabemos quanto DEUS nos ama e confiamos em seu amor. DEUS é amor, e quem permanece no amor permanece em DEUS, e DEUS nele". Se estamos em DEUS e permanecemos em Seu amor, Ele também está. Se Ele está, temos dentro de nós o melhor de DEUS, não somos qualquer um, pois o Melhor habita em nós, o Espírito Santo, a Essência do próprio DEUS.

Por ironia, a própria igreja pode afagar o "eu" impostor, conferindo ou negando-lhe honrarias, oferecendo o orgulho de uma posição baseada em desempenho e criando uma ilusão de status por classe e hierarquia. E, com as "melhores" das intenções, acaba-se caindo nas artimanhas do impostor que vive dentro de cada um, despertando-o para a pior das intenções: "o espiritual", julgando as outras inferiores.

Então, quem sou? Sou aquele amado por Jesus Cristo!

Lembre-se da força da declaração assentada em João 3:16, quando afirma: "“Porque DEUS amou tanto o mundo que deu seu Filho único, para que todo o que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna". "DEUS amou o mundo" foi tão abafada pela retórica religiosa que não ouvimos mais a palavra que revela a ternura de DEUS para conosco? Sim!

Pessoas são convidadas não para o arrependimento, com a intenção de crucificar sua "velha natureza" ou o "velho homem", o impostor que habita dentro de si e o puxando para baixo na tentativa de destruí-lo e sim, pelas beneficências que o suposto evangelho da prosperidade possa ofertar a ela.

Diante de tal fato, existe a necessidade de nos afastarmos para o silêncio. É no silêncio que descobrimos quem somos e nos aproximamos mais de DEUS. É longe das turbulências que o cotidiano nos apresenta que encontra-se a paz necessária para se ouvir a voz de DEUS e se ter um relacionamento sincero para com Ele.

Manning (2007) ainda nos diz que o silêncio não é simplesmente a ausência de barulho nem a interrupção da comunicação com o mundo exterior, mas um processo para se alcançar a tranquilidade. É impossível conhecer outra pessoa intimamente sem dedicar tempo para ficar junto dela. Você não se vê como realmente é por causa de toda aquela confusão e agitação. Deixa de reconhecer a presença Divina em sua vida, e a consciência de ser o amado desaparece aos poucos.

Gastar tempo com DEUS de forma consciente capacita-me a falar e agir com uma força maior, perdoar em vez de alimentar a última ofensa ao meu ego ferido, agir com generosidade nos momentos mais banais. Enche-me de poder para que eu seja capaz de abandonar o "eu", pelo menos temporariamente, num contexto maior que o meu mundinho de medos e inseguranças, apenas me aquietar e saber que DEUS é DEUS, afirma Manning (2007).

Tentamos esconder nossa insignificância e a "lama" da culpa. Chegamos a nos esgoelar para impressionar DEUS como se fossemos verdadeiros puritanos e assim, brigamos para chamar Sua atenção, debatemos na tentativa de consertar nossos defeitos e vivemos o evangelho de modo tão sem graça que mal conseguimos atrair os cristãos nominais e o pior de tudo, os incrédulos à Verdade.

A melhor identidade que se pode adquirir é ser "amado de DEUS", vivendo o nosso "eu" verdadeiro, crucificando o impostor que existe dentro de mim. Aprendendo a caminhar e viver em Vida Plena. Qualquer outra identidade é ilusão.

 

 

 

REFERÊNCIAS

Bíblia Nova Versão Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>. Acessado em: 25 set. 2020.

MANNING, Brennam. O impostor que vive em mim. Tradução de Marson Guedes. 2ªed. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.

MERTON, Thomas. The Hidden Ground of Love: Letters. New York: Farrar, Strauss, Giroux, 1985.

                                                                                                           



[1] Pastor - site: www.vivendoemvidaplena.teo.br - Redes Sociais: @prrobinsonlaraujo

[2] A Traveler Toward the Dawn, p. XII.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

QUEM SOU EU?

 


Robinson L Araujo[1]


Você já se pegou perguntando que você é? De fato, em algum momento de nossa caminhada aqui, paramos para fazer esse tipo de reflexão, ou se não, é importante que você saiba quem realmente é.

Em um determinado tempo, após viver uma tortura psicológica em detrimento do serviço, desencadeando um início de depressão, houve a necessidade de saber quem realmente eu era. Assumir a minha razão. Deixar de viver o que as pessoas gostariam ou impunham para que fosse - embora não me rendia por completo - entretanto buscava agradar da melhor forma.

Realmente é um processo doloroso, por vezes solitário, porém, somente com uma aproximação íntima com DEUS, somos capazes de vencer e assumir "quem eu sou", desprendendo de preocupações em querer agradar pessoas.

Existe um texto bíblico ao qual busco ancoragem que se encontra em Romanos 12:2[2], que afirma:

Não se ajustem demais à sua cultura, a ponto de não poderem pensar mais. Em vez disso, concentrem a atenção em DEUS. Vocês serão mudados de dentro para fora. Descubram o que Ele quer de vocês e tratem de atendê-Lo. Diferentemente da cultura dominante, que sempre arrasta para baixo, ao nível da imaturidade, DEUS extrai o melhor de vocês e desenvolve em vocês uma verdadeira maturidade.

O que realmente a cultura quer - nesse caso não a cultura do intelecto ou da arte, mas a cultura que tenta nos dominar - é fazer com que assumamos um "eu" que venha de encontro as necessidade da "galera", do geral, do agradar para que você seja feliz e consiga oportunidade. A pessoa que age assim seria como Manning (2007) descreve: não tem ideias ou opiniões próprias; apenas se ajusta (como um camaleão). Quer apenas estar seguro, se adaptar, ser aceito, ser valorizado (...) Ele é famoso por ser um zé-ninguém, o "famoso quem".

Lembro-me de uma pessoa que, após questioná-lo de suas ações, acabou por afirmar: "eu quero é estar de bem com todo mundo". A esse tipo de atitude, quando o "eu" se importa em agradar ao redor, esquecendo-se de quem realmente a pessoa é, MANNING (2007, p. 37), afirma:

Impostores se preocupam com aceitação e aprovação. Por causa da necessidade sufocante de agradar os outros, não conseguem dizer "não" com a mesma convicção que dizem "sim". Assim, fazem das pessoas, dos projetos e das causas extensões de si, motivados não pelo compromisso pessoal, mas pelo medo de não corresponder às expectativas das pessoas.

A esse "eu" corrompido, Manning o chama de "impostor", e acaba for definir:

O impostor é o codependente clássico. Para ser aceito e aprovado, o falso "eu" anula ou disfarça os sentimentos, tornando impossível a honestidade emocional. A sobrevivência do falso "eu" gera o desejo compulsivo de apresentar uma imagem de perfeição diante do público, de maneira que todos nos admirem e ninguém nos conheça. A vida do impostor se transforma numa montanha russa de júbilo e depressão.

Muitos acabam por buscar a sacieis do falso "eu", se envolvendo em experiências externas para dispor de uma fonte pessoal de significado, como por exemplo a busca por dinheiro, poder, glamour, proezas sexuais, reconhecimento e status potencializa a autovalorização e cria a ilusão de sucesso. O impostor é aquilo que ele faz. Ele nos predispõe a dar importância àquilo que não é importante de fato, revestindo de falso brilho o que é menos substancial e nos afastando do que é real. O falso "eu" nos faz viver num mundo de ilusões. O impostor é um mentiroso.

Importante nos atentarmos para o que o apóstolo João, em seu capítulo 10, verso 10, nos afirma: "O ladrão vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para lhes dar vida, uma vida plena, que satisfaz"[3].

Esse falso "eu", que age como um "ladrão" faz o possível para impedir que enxerguemos a realidade do vazio que há em nós. Um vazio que pode ser preenchido e saciado pela habitação do Espírito Santo, enviado por DEUS. Não pelas circunstâncias de minha volta, que atraem para uma felicidade momentânea e o meu "eu" continuará em uma busca frenética para alimentar suas necessidades.

Quando o falso "eu" se aproveita de minha preocupação com o externo, acaba por desviar minha atenção de DEUS que habita em mim e, por algum tempo, vem a roubar a alegria que deveria ser gerada pelo Espírito Santo que habita em mim.

Manning (2007) ainda acrescenta que a identidade dos impostores não é resultado apenas de suas conquistas, mas também dos relacionamentos interpessoais. Querem ficar bem com as pessoas de prestígios porque isso potencializa o currículo e o senso de valor próprio.

Quais os tipos de relacionamentos estamos buscando? A quem queremos agradar? João termina a citação de Jesus, quando descreve no decorrer do verso 10: "... Eu vim para lhes dar vida, uma vida plena, que satisfaz".

Faz-se necessário, nos rendermos ao Senhorio de Jesus Cristo, Ele é a pessoa a quem podemos nos relacionar, caso contrário, não se encontrará forças para transformar o nosso "eu impostor", que age e tenta nos destruir o tempo todo, arrastando-nos para baixo, ao ponto da imaturidade, como afirma o apóstolo Paulo.

01.1027.02.0401-03.0605

 
Não estamos aqui para agradar pessoas. Não fomos criados para uma decadência psicológica em função dos outros. Fomos criados para viver em Vida Plena no Senhor.

 

 

REFERÊNCIAS

Bíblia Nova Versão Transformadora. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/nvt>. Acessado em: 15 set. 2020.

MANNING, Brennam. O impostor que vive em mim. Tradução de Marson Guedes. 2ªed. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.

PETERSON, Heugene H. Bíblia A MENSAGEM em Linguagem Contemporânea. São Paulo: Editora Vida, 2011.



[1] Pastor - redes sociais: @prrobinsonlaraujo - www.vivendoemvidaplena.teo.br

[2] Bíblia: A Mensagem.

[3] Bíblia Nova Versão Transformadora.