Robinson
L Araujo[1]
INTRODUÇÃO
Vivemos
dias de sacrifícios, onde a vida não está fácil para ninguém e como pais, temos
a responsabilidade de criarmos e educarmos nossos filhos. Assistimos uma
geração que cresce distantes, embora morando debaixo do mesmo teto, da
companhia de seus pais, onde os pais acabam por transferir sua responsabilidade
para as escolas, igrejas e até mesmo, a internet.
Sendo
assim, a palavra não será para as crianças e sim para nós, que somos pais. O
que temos feito de real na vida de nossos filhos? Que tipo de pais estamos
sendo? Corrigimos suas atitudes, mostramos o caminho e a direção na vida deles?
Sou
esposo e pai de duas filhas: Jeovanna, hoje com 17 anos e Emanuelly, com 13 anos.
Um desafio, tendo como principal motivo a falta de um manual mostrando como de
fato deveria criar minhas filhas. Creio que, pra você quem é pai/mãe, não foi
ou, tem sido diferente, principalmente diante da concorrência desleais, como a
internet, em virtude da infinitude de informações e cores aceleradas captadas
por suas mentes, tornam nossas palavras monótonas e chatas.
Espero
que possamos entender a dinâmica e mudar nossas atitudes.
1. MOSTRANDO
A DIREÇÃO
A
Palavra de DEUS, nos orienta: “Mostre a direção da vida para seus filhos – e,
mesmo quando forem velhos, eles não se perderão”. (Provérbios 22:6[2]).
Peterson,
(2009, p.737), afirma:
Uma
das principais perguntas que todo cristão tem que fazer é: “Como posso ajudar
melhor as pessoas a crescer em maturidade?”.
Os
cristãos que pensam que podem indicar a alguém a direção certa na vida cristã
desenhando mapas, compilando estatísticas e fazendo desenhos terão uma grande
decepção. O processo de crescimento cristão não é uma questão de educação
adequada; é uma questão de exemplo pessoal. Isso significa que toda vez que
você se envolver em um ato de fé em Cristo, está indicando o caminho certo aos
outros. Toda vez que você demonstra amor por alguém, está mostrando aos outros
a vida de Cristo. Toda vez que você perdoa alguém, está apontando aos outras a
direção que Cristo gostaria que seguissem.
O
exemplo é sempre o melhor professor que qualquer manual de instruções.
A
observação torna melhor o estudante do que simplesmente a leitura.
Mostrar
a direção na vida de nossos filhos, não é simplesmente proporcionar a eles um
bom colégio, boas roupas, as melhores coisas ou tudo que ele deseja. Vai mais
além, começa do princípio de como estamos agindo em nossas atitudes como seus
pais. O que nossos filhos vêm em nossa vida cotidiana a nosso respeito, dentro
de nossas ações, na intimidade do lar.
Mostrar
a direção na vida de nossos filhos é determinar objetivos na formação deles,
não sendo uma tarefa fácil, requerendo muita dedicação durante anos. O que não
podemos desprover de nossa mente é que DEUS assegura a Sua graça e sabedoria
sobre nós, pais.
Como
metas importantes na formação de nossos filhos, podemos citar:
Ø Uma
relação pessoal com DEUS – consciência de que é parte da família de DEUS e deve
se relacionar diretamente com Ele;
Ø Formação
de caráter – capacidade para enfrentar as responsabilidades da vida, trabalho,
casamento, sólida base moral, autodisciplina, autoestima sadia, domínio
próprio, controle sobre os sentimentos, gostos...
Ø Formação
social – clara consciência de sua identidade, capacidade de se relacionar com
outros, assumir compromissos, e sujeição às autoridades.
Ø Formação
física – bons hábitos alimentares associados a uma boa higiene pessoal.
Horários corretos para se dormir, estudar e brincar. Estas boas práticas vão
tornando a criança mais consciente de seus deveres e edificando seu caráter
para ter uma vida ajustada a mais feliz.
Qual a
direção que temos mostrado na vida de nossos filhos?
2. O
USO DA DISCIPLINA
“Quem
não corrige seu filho não o ama; ame seu filho, não deixe de discipliná-lo”.
(Provérbios 13:24[3]).
Não
poderia deixar de citar Peterson (2001, p. 2604), que adverte:
O
uso da disciplina pode nos levar a um terreno muito perigoso. A maior parte da
disciplina física que é aplicada pelos pais, baseia-se mais na impaciência ou
nos desejos egoístas deles do que em um espírito de amor e no desejo de se
obter boa disciplina. Além do mais, há um extremo de tratamento cruel, mediante
o qual os pais ferem ou mesmo matam seus filhos.
Um
bom pai ou mãe pode encontrar outros meios disciplinares exatamente tão
eficazes, ou mais ainda, do que provocar dor física em seus filhos, mesmo que
essa dor seja administrada com moderação e amor.
Importante
salientar que a disciplina provida de dor física, não mudará o caráter de seu
filho quando ele estiver crescido e maduro. Poderá ajudar! Lembre-se que existe
a herança genética, espiritual e o destino. Se seu filho se tornar uma pessoa
ruim quando adulta, a culpa pode não ser sua, mas da herança genética. Se seus
filhos mostrarem ser pessoas boas, o crédito pode não ser seu.
Vejamos
o que é disciplina[4]:
Disciplina
é a obediência ao conjunto de regras e normas que são estabelecidos por
determinado grupo. Também pode se referir ao cumprimento de responsabilidades
específicas de cada pessoa. Do ponto de vista social, a disciplina ainda
representa a boa conduta do indivíduo, ou seja, a característica da pessoa que
cumpre as ordens existentes na sociedade.
Após a
compreensão do que venha a ser disciplina, podemos citar três etapas da
aplicação da mesma, sendo:
1. Instrução: As
crianças, por sua natureza em formação, necessitam de muito ensino e instrução
para saberem o que fazer em todas as etapas da vida. Elas nascem num mundo onde
tudo é estranho e novo e passarão a maior parte de sua vida aprendendo sobre
tudo o que há no mundo;
2. Admoestação:
Admoestar significa “advertir de uma falta, repreender com bravura” ou, segundo
o sentido literal do grego no novo testamento, “pôr na mente visando mudar a
forma de pensar do outro”. É parte da criança desobedecer, sendo assim, caberá
aos pais a repetição constante das instruções, reforçando o ensino;
3. Correção: a
correção de um filho é um treinamento de amor, aliado a uma boa instrução com
admoestações.
Devemos
por limites sim a nossos filhos. Quando olhamos para nossa infância, nem tudo
era da maneira que queríamos, a vida era mais difícil. Hoje, queremos dar tudo
a nossos filhos e acaba não lhes custando sacrifícios nenhum, em muitos casos.
Talvez, porque não queiramos que eles “sofram” e damos aquilo que não tivemos
no passado.
Corrigir
o filho; direcionar; mostrar o que é certo e errado, sem dúvidas são maneiras
de leva-los a reflexão daquilo que condiz com o que achamos certos. Até mesmo a
utilização de uma “varinha”, para que ele saiba que errou, desde que, em
momento algum o seu uso venha a constranger ou trazer dor e marcas pelo seu
corpo.
-
Lembro-me que na criação de nossa filha maior, em nossa sala, havia um buraco
oco em virtude do prego que havíamos retirado do lugar. Uma vez, por sua
malcriação, houve a necessidade de correção. Posterior, a varinha ocupou o
lugar daquele prego e estava a sua vista. Nunca mais precisamos utilizá-la,
pois ela compreendera a necessidade de sua utilização e cortava volta da mesma.
Nossos
filhos precisam compreender e respeitar os limites. O problema que não
colocamos mais limites na vida de nossos filhos, outros acabam achando que já
são adultos.
Quando
ainda pequenas, elas sempre estavam juntas em nossas compras de supermercado.
Eu sempre olhava as prateleiras com elas com as mãos para trás, nós três. Mesmo
desejando, aprendiam que o momento não era para comprarmos e compreendiam o
limite de suas mãos, como eu.
Por
outro lado, víamos crianças gritando, se jogando no chão, por vezes, xingando
seus pais porque elas queriam aquele doce, ou biscoito. Ao menos para mim,
entendia que se fossa minhas filhas, eu teria a maior vergonha se elas o
fizessem.
Precisamos
aprender a corrigir nossos filhos. A vida não é fácil, e as coisas são
adquiridas com o suor do trabalho. Como afirmam: “dinheiro não vem fácil” e se
eles não entenderem o valor das coisas pelo limite, se tornarão adultos
consumistas e sem limites.
Disciplinar
o filho é mostrar amor!
Entretanto,
vejamos o que não se deve fazer ao utilizar a discipliana:
Ø Colocar
a criança sozinha em um quarto escuro (isto transmite rejeição);
Ø Fazer
passar vergonha em público e puni-la na presença de outras pessoas;
Ø Ridicularizar
(Você é um bobalhão, você não será nada na vida...);
Ø Menosprezar (você faz tudo errado...);
Ø Compará-las
negativamente com outros;
Ø Ameaçar
(se não obedecer, eu vou...);
Ø Dar
berros, gritar, sair de si;
Ø Privar
a criança de direitos legítimos, como alimentar-se, beber água...;
Ø Afirmar
negativamente: “eu não gosto mais de você, DEUS não gosta de criança
malcriada...”;
Ø Bater,
utilizando-se de outros métodos que não seja a varinha, como por exemplo:
cintos, chinelos, tapas, socos...
Lembre-se:
Pais que cobram demais perdem a admiração dos filhos. Deveriam colocar limites,
mas jamais esquecer de elogiar ao menos três vezes mais do que criticam.
3. COM
QUEM NOSSOS FILHOS ANDAM?
“Diga-me
com quem você anda e direi quem você é: quem anda com o sábio torna-se sábio,
mas quem anda om o insensato verá sua vida ir por água abaixo”. (Provérbios
13:20[5]).
Você
conhece os coleguinhas de seus filhos? Conhece seus pais, sabe como vivem, o
que fazem? Teve curiosidade em saber ou está tudo bem para você!
“Quem
anda com sábios, se tornará sábio”. Aqui o autor mostra-nos a importância das
boas companhias, sendo um truísmo, mas revela algo tão poderoso que foi o tema
da primeira parte do referido verso: o homem que vive na companhia habitual dos
sábios tende a tornar-se, ele mesmo, um sábio.
Agora,
gostaria que pensássemos: temos sido boa companhia na vida de nossos filhos? O
que temos passado para eles?
Ao
invés de deixar os filhos a frente de um celular, com pessoas que muitas vezes
não se conhece, onde invadem a mente das crianças, aliciando-os a práticas que
o levam a vulnerabilidade emocional. Que tal, investir tempo na vida de seus
filhos? Termos tempo de qualidade na vida deles.
Em “as
cinco linguagens do amor”, temos que: Tempo de qualidade não é assistir à
televisão ou ler uma revista com o filho por perto. Isso poderá satisfazer
aquele que tem por linguagem de amor o toque físico e proximidade, mas para
aqueles que precisam de tempo de qualidade, pode se tornar frustrante.
Para
algumas pessoas, a primeira linguagem do amor está relacionada à qualidade de
tempo mesmo que receba elogios o tempo todo, isso não seria o mais importante
para ela. “Qualidade de Tempo” seria dedicar a alguém sua inteira atenção, sem
dividi-la. Significa dirigir toda atenção para a outra sem ficar dando uma
olhadinha na televisão, ou no celular, ou na revista, ou em qualquer situação
que desvirtue a atenção.
Tempo
de qualidade implica realmente em ouvir de verdade o que o outro está dizendo.
A distração com outra coisa transmite não apenas que, o que a criança diz não
ter importância, mas que ela mesma não é importante para você.
Os que
falam esta linguagem apreciam sentar e conversar. Tendem a falar sobre assuntos
sérios e com muita frequência se dispõem a compartilhar medos ou aspirações
profundas. Para estes, o que importa é o tempo dedicado a conhecer seus
pensamentos e sentimentos. O tempo pode ser apenas de 10 minutos, mas para
aquele que fala a linguagem do tempo de qualidade, esses 10 minutos são
preciosos.
Parece
que todos exigem tempo com você? Preste atenção: às vezes o que vão lhe contar,
para você pode não ter muita importância, mas para ele sim. Aprenda a escutar,
a dar-lhe a atenção necessária, pois, quem sabe, ele não está desenvolvendo a
linguagem do tempo de qualidade com você.
Dar um
passeio, sair para comer juntos. O estar junto tem a ver com o focalizar a
atenção. Quer dizer fazer coisas juntos e conceder atenção total a quem está
conosco. A atividade em si não é o mais importante e sim a atenção que damos e
recebemos.
Conversa
de Qualidade: Isto significar parar tudo para conversar em um diálogo acolhedor
sem interrupções. Ouvir por ouvir e na hora de comunicar o amor cumpra alguns
quesitos básicos como: Olho no Olho, Atenção total, Saber escutar, Não
interrompa para exprimir as suas própria ideias.
A vida
é como uma cadeia de montanhas com múltiplas possibilidades. Cada passo do
caminho é incerto, e parte do terreno é traiçoeiro. Somente uma pessoa sem
experiência pensaria que é possível fazer a escalada sozinho.
4.
FORMANDO SUCESSORES E NÃO HERDEIROS
Por
último e não mais ou menos importante que os anteriores, temos a
reponsabilidade de formarmos, dando uma direção na vida de nossos filhos. Não
quero afirmar que seguirão nossas instruções a finco, mas não podemos desistir
na caminhada da formação.
Augusto
Cury (2021), no livro Pais Inteligentes Formam Sucessores, não herdeiros,
comenta que pais no mundo todo, ao criticarem e cobrarem excessivamente de seus
filhos, geram herdeiros e não sucessores. Herdeiros são imediatistas, querem
tudo rápido e pronto como um hambúrguer, enquanto que sucessores elaboram seus
projetos, pensam a médio e longo prazos. Herdeiros vivem a sobra de seus pais,
enquanto que sucessores constroem seu legado. Herdeiros exploram seus pais como
pequenos ditadores, enquanto que sucessores se curvam em agradecimento aos seus
educadores, inclusive, seus professores. Herdeiros detestam o NÃO, enquanto que
sucessores sabem a importância dele. Herdeiros são gastadores irresponsáveis da
sua herança, seja ela a vida, os valores, a ética ou os bens materiais,
enquanto sucessores preservam e enriquecem sua herança.
A
Bíblia nos assevera em Efésios 6:3[6]: “Pai, não provoquem seus
filhos, sendo duros demais com eles. Tratem de segurá-los pela mão para
guia-los no caminho do Senhor”.
“Segurar
pela mão e guia-los”, não é formar herdeiros tão somente, vai muito além, é
realmente investir no discipulado, mostrar como é o caminho, é fazê-los
sucessores e futuros homens e mulheres de valor.
Conheço
muitos filhos que, ao perderem seus pais, sendo alguns com uma vida financeira
bacana, acabaram por ficarem falidos. Não sabiam como o dinheiro surgia, mas
sabiam gastá-lo demasiadamente. Eram somente herdeiros, não estavam aptos para
administrar a fazenda, empresa, comercio deixado por seus genitores.
Quando
se forma sucessores, eles sabem o custo para gerar riquezas. Possuem firmeza na
hora de investir e sabedoria na hora de gastar. Viram quão difícil foi seus
pais chegarem onde chegaram e, se não forem bons administradores, acabarão
falidos.
O que
estamos formando: herdeiros ou sucessores?
Que
DEUS nos dê a capacidade de formarmos filhos sucessores.
REFERÊNCIAS
CHAMPLIN,
Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo:
volume 4: Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares. 2ª ed. São Paulo:
Hagnos, 2001.
CURY,
Augusto. Vá mais longe: treine sua memória e sus inteligência. Jandira,
SP: Principis, 2021.
PETERSON,
Eugene H. A Mensagem|: Bíblia em Linguagem Contemporânea. São Paulo:
Editora Vida, 2014.
PRESBITÉRIO. A
FAMÍLIA UM PROJETO DE DEUS: Livreto II – Pais e Filhos. Série; “Fazei
discípulos”. Igreja em Porto Alegre, 2014.