terça-feira, 11 de outubro de 2022

PALAVRA AOS PAIS NO DIA DAS CRIANÇAS


 

Robinson L Araujo[1]

 

INTRODUÇÃO

Vivemos dias de sacrifícios, onde a vida não está fácil para ninguém e como pais, temos a responsabilidade de criarmos e educarmos nossos filhos. Assistimos uma geração que cresce distantes, embora morando debaixo do mesmo teto, da companhia de seus pais, onde os pais acabam por transferir sua responsabilidade para as escolas, igrejas e até mesmo, a internet.

Sendo assim, a palavra não será para as crianças e sim para nós, que somos pais. O que temos feito de real na vida de nossos filhos? Que tipo de pais estamos sendo? Corrigimos suas atitudes, mostramos o caminho e a direção na vida deles?

Sou esposo e pai de duas filhas: Jeovanna, hoje com 17 anos e Emanuelly, com 13 anos. Um desafio, tendo como principal motivo a falta de um manual mostrando como de fato deveria criar minhas filhas. Creio que, pra você quem é pai/mãe, não foi ou, tem sido diferente, principalmente diante da concorrência desleais, como a internet, em virtude da infinitude de informações e cores aceleradas captadas por suas mentes, tornam nossas palavras monótonas e chatas.

Espero que possamos entender a dinâmica e mudar nossas atitudes.

 

1. MOSTRANDO A DIREÇÃO

A Palavra de DEUS, nos orienta: “Mostre a direção da vida para seus filhos – e, mesmo quando forem velhos, eles não se perderão”. (Provérbios 22:6[2]).

Peterson, (2009, p.737), afirma:

Uma das principais perguntas que todo cristão tem que fazer é: “Como posso ajudar melhor as pessoas a crescer em maturidade?”.

Os cristãos que pensam que podem indicar a alguém a direção certa na vida cristã desenhando mapas, compilando estatísticas e fazendo desenhos terão uma grande decepção. O processo de crescimento cristão não é uma questão de educação adequada; é uma questão de exemplo pessoal. Isso significa que toda vez que você se envolver em um ato de fé em Cristo, está indicando o caminho certo aos outros. Toda vez que você demonstra amor por alguém, está mostrando aos outros a vida de Cristo. Toda vez que você perdoa alguém, está apontando aos outras a direção que Cristo gostaria que seguissem.

O exemplo é sempre o melhor professor que qualquer manual de instruções.

A observação torna melhor o estudante do que simplesmente a leitura.

Mostrar a direção na vida de nossos filhos, não é simplesmente proporcionar a eles um bom colégio, boas roupas, as melhores coisas ou tudo que ele deseja. Vai mais além, começa do princípio de como estamos agindo em nossas atitudes como seus pais. O que nossos filhos vêm em nossa vida cotidiana a nosso respeito, dentro de nossas ações, na intimidade do lar.

Mostrar a direção na vida de nossos filhos é determinar objetivos na formação deles, não sendo uma tarefa fácil, requerendo muita dedicação durante anos. O que não podemos desprover de nossa mente é que DEUS assegura a Sua graça e sabedoria sobre nós, pais.

Como metas importantes na formação de nossos filhos, podemos citar:

Ø  Uma relação pessoal com DEUS – consciência de que é parte da família de DEUS e deve se relacionar diretamente com Ele;

Ø  Formação de caráter – capacidade para enfrentar as responsabilidades da vida, trabalho, casamento, sólida base moral, autodisciplina, autoestima sadia, domínio próprio, controle sobre os sentimentos, gostos...

Ø  Formação social – clara consciência de sua identidade, capacidade de se relacionar com outros, assumir compromissos, e sujeição às autoridades.

Ø  Formação física – bons hábitos alimentares associados a uma boa higiene pessoal. Horários corretos para se dormir, estudar e brincar. Estas boas práticas vão tornando a criança mais consciente de seus deveres e edificando seu caráter para ter uma vida ajustada a mais feliz.

Qual a direção que temos mostrado na vida de nossos filhos?

 

2. O USO DA DISCIPLINA

“Quem não corrige seu filho não o ama; ame seu filho, não deixe de discipliná-lo”. (Provérbios 13:24[3]).

Não poderia deixar de citar Peterson (2001, p. 2604), que adverte:

O uso da disciplina pode nos levar a um terreno muito perigoso. A maior parte da disciplina física que é aplicada pelos pais, baseia-se mais na impaciência ou nos desejos egoístas deles do que em um espírito de amor e no desejo de se obter boa disciplina. Além do mais, há um extremo de tratamento cruel, mediante o qual os pais ferem ou mesmo matam seus filhos.

Um bom pai ou mãe pode encontrar outros meios disciplinares exatamente tão eficazes, ou mais ainda, do que provocar dor física em seus filhos, mesmo que essa dor seja administrada com moderação e amor.

Importante salientar que a disciplina provida de dor física, não mudará o caráter de seu filho quando ele estiver crescido e maduro. Poderá ajudar! Lembre-se que existe a herança genética, espiritual e o destino. Se seu filho se tornar uma pessoa ruim quando adulta, a culpa pode não ser sua, mas da herança genética. Se seus filhos mostrarem ser pessoas boas, o crédito pode não ser seu.

Vejamos o que é disciplina[4]:

Disciplina é a obediência ao conjunto de regras e normas que são estabelecidos por determinado grupo. Também pode se referir ao cumprimento de responsabilidades específicas de cada pessoa. Do ponto de vista social, a disciplina ainda representa a boa conduta do indivíduo, ou seja, a característica da pessoa que cumpre as ordens existentes na sociedade.

Após a compreensão do que venha a ser disciplina, podemos citar três etapas da aplicação da mesma, sendo:

1.     Instrução: As crianças, por sua natureza em formação, necessitam de muito ensino e instrução para saberem o que fazer em todas as etapas da vida. Elas nascem num mundo onde tudo é estranho e novo e passarão a maior parte de sua vida aprendendo sobre tudo o que há no mundo;

2.     Admoestação: Admoestar significa “advertir de uma falta, repreender com bravura” ou, segundo o sentido literal do grego no novo testamento, “pôr na mente visando mudar a forma de pensar do outro”. É parte da criança desobedecer, sendo assim, caberá aos pais a repetição constante das instruções, reforçando o ensino;

3.     Correção: a correção de um filho é um treinamento de amor, aliado a uma boa instrução com admoestações.

Devemos por limites sim a nossos filhos. Quando olhamos para nossa infância, nem tudo era da maneira que queríamos, a vida era mais difícil. Hoje, queremos dar tudo a nossos filhos e acaba não lhes custando sacrifícios nenhum, em muitos casos. Talvez, porque não queiramos que eles “sofram” e damos aquilo que não tivemos no passado.

Corrigir o filho; direcionar; mostrar o que é certo e errado, sem dúvidas são maneiras de leva-los a reflexão daquilo que condiz com o que achamos certos. Até mesmo a utilização de uma “varinha”, para que ele saiba que errou, desde que, em momento algum o seu uso venha a constranger ou trazer dor e marcas pelo seu corpo.

- Lembro-me que na criação de nossa filha maior, em nossa sala, havia um buraco oco em virtude do prego que havíamos retirado do lugar. Uma vez, por sua malcriação, houve a necessidade de correção. Posterior, a varinha ocupou o lugar daquele prego e estava a sua vista. Nunca mais precisamos utilizá-la, pois ela compreendera a necessidade de sua utilização e cortava volta da mesma.

Nossos filhos precisam compreender e respeitar os limites. O problema que não colocamos mais limites na vida de nossos filhos, outros acabam achando que já são adultos.

Quando ainda pequenas, elas sempre estavam juntas em nossas compras de supermercado. Eu sempre olhava as prateleiras com elas com as mãos para trás, nós três. Mesmo desejando, aprendiam que o momento não era para comprarmos e compreendiam o limite de suas mãos, como eu.

Por outro lado, víamos crianças gritando, se jogando no chão, por vezes, xingando seus pais porque elas queriam aquele doce, ou biscoito. Ao menos para mim, entendia que se fossa minhas filhas, eu teria a maior vergonha se elas o fizessem.

Precisamos aprender a corrigir nossos filhos. A vida não é fácil, e as coisas são adquiridas com o suor do trabalho. Como afirmam: “dinheiro não vem fácil” e se eles não entenderem o valor das coisas pelo limite, se tornarão adultos consumistas e sem limites.

Disciplinar o filho é mostrar amor!

Entretanto, vejamos o que não se deve fazer ao utilizar a discipliana:

Ø  Colocar a criança sozinha em um quarto escuro (isto transmite rejeição);

Ø  Fazer passar vergonha em público e puni-la na presença de outras pessoas;

Ø  Ridicularizar (Você é um bobalhão, você não será nada na vida...);

Ø   Menosprezar (você faz tudo errado...);

Ø  Compará-las negativamente com outros;

Ø  Ameaçar (se não obedecer, eu vou...);

Ø  Dar berros, gritar, sair de si;

Ø  Privar a criança de direitos legítimos, como alimentar-se, beber água...;

Ø  Afirmar negativamente: “eu não gosto mais de você, DEUS não gosta de criança malcriada...”;

Ø  Bater, utilizando-se de outros métodos que não seja a varinha, como por exemplo: cintos, chinelos, tapas, socos...

Lembre-se: Pais que cobram demais perdem a admiração dos filhos. Deveriam colocar limites, mas jamais esquecer de elogiar ao menos três vezes mais do que criticam.

 

3. COM QUEM NOSSOS FILHOS ANDAM?

“Diga-me com quem você anda e direi quem você é: quem anda com o sábio torna-se sábio, mas quem anda om o insensato verá sua vida ir por água abaixo”. (Provérbios 13:20[5]).

Você conhece os coleguinhas de seus filhos? Conhece seus pais, sabe como vivem, o que fazem? Teve curiosidade em saber ou está tudo bem para você!

“Quem anda com sábios, se tornará sábio”. Aqui o autor mostra-nos a importância das boas companhias, sendo um truísmo, mas revela algo tão poderoso que foi o tema da primeira parte do referido verso: o homem que vive na companhia habitual dos sábios tende a tornar-se, ele mesmo, um sábio.

Agora, gostaria que pensássemos: temos sido boa companhia na vida de nossos filhos? O que temos passado para eles?

Ao invés de deixar os filhos a frente de um celular, com pessoas que muitas vezes não se conhece, onde invadem a mente das crianças, aliciando-os a práticas que o levam a vulnerabilidade emocional. Que tal, investir tempo na vida de seus filhos? Termos tempo de qualidade na vida deles.

Em “as cinco linguagens do amor”, temos que: Tempo de qualidade não é assistir à televisão ou ler uma revista com o filho por perto. Isso poderá satisfazer aquele que tem por linguagem de amor o toque físico e proximidade, mas para aqueles que precisam de tempo de qualidade, pode se tornar frustrante.

Para algumas pessoas, a primeira linguagem do amor está relacionada à qualidade de tempo mesmo que receba elogios o tempo todo, isso não seria o mais importante para ela. “Qualidade de Tempo” seria dedicar a alguém sua inteira atenção, sem dividi-la. Significa dirigir toda atenção para a outra sem ficar dando uma olhadinha na televisão, ou no celular, ou na revista, ou em qualquer situação que desvirtue a atenção.

Tempo de qualidade implica realmente em ouvir de verdade o que o outro está dizendo. A distração com outra coisa transmite não apenas que, o que a criança diz não ter importância, mas que ela mesma não é importante para você.

Os que falam esta linguagem apreciam sentar e conversar. Tendem a falar sobre assuntos sérios e com muita frequência se dispõem a compartilhar medos ou aspirações profundas. Para estes, o que importa é o tempo dedicado a conhecer seus pensamentos e sentimentos. O tempo pode ser apenas de 10 minutos, mas para aquele que fala a linguagem do tempo de qualidade, esses 10 minutos são preciosos.

Parece que todos exigem tempo com você? Preste atenção: às vezes o que vão lhe contar, para você pode não ter muita importância, mas para ele sim. Aprenda a escutar, a dar-lhe a atenção necessária, pois, quem sabe, ele não está desenvolvendo a linguagem do tempo de qualidade com você.

Dar um passeio, sair para comer juntos. O estar junto tem a ver com o focalizar a atenção. Quer dizer fazer coisas juntos e conceder atenção total a quem está conosco. A atividade em si não é o mais importante e sim a atenção que damos e recebemos.

Conversa de Qualidade: Isto significar parar tudo para conversar em um diálogo acolhedor sem interrupções. Ouvir por ouvir e na hora de comunicar o amor cumpra alguns quesitos básicos como: Olho no Olho, Atenção total, Saber escutar, Não interrompa para exprimir as suas própria ideias.

A vida é como uma cadeia de montanhas com múltiplas possibilidades. Cada passo do caminho é incerto, e parte do terreno é traiçoeiro. Somente uma pessoa sem experiência pensaria que é possível fazer a escalada sozinho.

 

4. FORMANDO SUCESSORES E NÃO HERDEIROS

Por último e não mais ou menos importante que os anteriores, temos a reponsabilidade de formarmos, dando uma direção na vida de nossos filhos. Não quero afirmar que seguirão nossas instruções a finco, mas não podemos desistir na caminhada da formação.

Augusto Cury (2021), no livro Pais Inteligentes Formam Sucessores, não herdeiros, comenta que pais no mundo todo, ao criticarem e cobrarem excessivamente de seus filhos, geram herdeiros e não sucessores. Herdeiros são imediatistas, querem tudo rápido e pronto como um hambúrguer, enquanto que sucessores elaboram seus projetos, pensam a médio e longo prazos. Herdeiros vivem a sobra de seus pais, enquanto que sucessores constroem seu legado. Herdeiros exploram seus pais como pequenos ditadores, enquanto que sucessores se curvam em agradecimento aos seus educadores, inclusive, seus professores. Herdeiros detestam o NÃO, enquanto que sucessores sabem a importância dele. Herdeiros são gastadores irresponsáveis da sua herança, seja ela a vida, os valores, a ética ou os bens materiais, enquanto sucessores preservam e enriquecem sua herança.

A Bíblia nos assevera em Efésios 6:3[6]: “Pai, não provoquem seus filhos, sendo duros demais com eles. Tratem de segurá-los pela mão para guia-los no caminho do Senhor”.

“Segurar pela mão e guia-los”, não é formar herdeiros tão somente, vai muito além, é realmente investir no discipulado, mostrar como é o caminho, é fazê-los sucessores e futuros homens e mulheres de valor.

Conheço muitos filhos que, ao perderem seus pais, sendo alguns com uma vida financeira bacana, acabaram por ficarem falidos. Não sabiam como o dinheiro surgia, mas sabiam gastá-lo demasiadamente. Eram somente herdeiros, não estavam aptos para administrar a fazenda, empresa, comercio deixado por seus genitores.

Quando se forma sucessores, eles sabem o custo para gerar riquezas. Possuem firmeza na hora de investir e sabedoria na hora de gastar. Viram quão difícil foi seus pais chegarem onde chegaram e, se não forem bons administradores, acabarão falidos.

O que estamos formando: herdeiros ou sucessores?

Que DEUS nos dê a capacidade de formarmos filhos sucessores.

 

REFERÊNCIAS

CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo: volume 4: Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares. 2ª ed. São Paulo: Hagnos, 2001.

CURY, Augusto. Vá mais longe: treine sua memória e sus inteligência. Jandira, SP: Principis, 2021.

PETERSON, Eugene H. A Mensagem|: Bíblia em Linguagem Contemporânea. São Paulo: Editora Vida, 2014.

PRESBITÉRIO. A FAMÍLIA UM PROJETO DE DEUS: Livreto II – Pais e Filhos. Série; “Fazei discípulos”. Igreja em Porto Alegre, 2014.



[1] Pastor. Pós graduado em Aconselhamento Pastoral e Terapia Familiar. Redes sociais: @prrobinsonlaraujo

[2] Bíblia A Mensagem

[3] Bíblia A Mensagem.

[4] Disponível em: < https://www.significados.com.br/disciplina/>. Acesso em: 10 out. 2022.

[5] Bíblia A Mensagem

[6] Bíblia A Mensagem

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